Com lágrimas nos olhos, Harrison Ford, 80 anos, despediu-se na quinta-feira (18) do personagem Indiana Jones, que o ajudou a construir uma carreira lendária no cinema, e o Festival de Cannes o contemplou de surpresa com uma Palma de Ouro honorífica na estreia do quinto filme da saga.
— Harrison, temos uma surpresa para você — disse o delegado-geral do festival, Thierry Frémaux, após chamar ao palco o ator americano de 80 anos, antes da exibição especial de Indiana Jones e a Relíquia do Destino.
Este foi um dos pontos altos do 76º Festival de Cannes, que já concedeu uma Palma honorífica ao também ator americano Michael Douglas na abertura da mostra. No ano passado, Tom Cruise recebeu a mesma honraria na estreia de Top Gun: Maverick.
— Eu me sinto muito emocionado. Dizem que quando a gente vai morrer, vê passar a vida em flashes diante dos olhos, e acabo de ver isso. Grande parte da minha vida, mas não toda a minha vida — disse o ator. — Cannes, eu também te amo.
Quinze anos depois
A saga Indiana Jones começou em 1981 com Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida, que fez sucesso imediato e em todo o mundo. O quarto episódio foi apresentado em 2008, em Cannes, e o astro de Hollywood voltou à Croisette, desta vez sob a direção de James Mangold.
Ao pisar no tapete vermelho, o ator, acompanhado da esposa, Calista Flockhart, causou comoção, sobretudo quando foi executada a famosa trilha da saga, composta por John Williams. Outros membros do elenco também compareceram à estreia do filme, como Phoebe Waller-Bridge e Mads Mikkelsen. Entre as demais personalidades vistas no tapete vermelho, destacaram-se o cacique Raoni, o cineasta britânico Steve McQueen e o rapper francês OrelSan.
Os primeiros quatro episódios da saga foram dirigidos por Steven Spielberg, que compareceu a Cannes em 2008 para a exibição de Indiana Jones e o Reino da Caveira de Cristal. A nova produção é ambientada no fim dos anos 1960, mas os roteiristas incluíram um flashback que exigiu o uso de inteligência artificial para "rejuvenescer" o rosto de Ford em várias cenas, em mais um exemplo das mudanças recentes no setor audiovisual.
No filme, Indiana Jones precisa voltar a usar seu chapéu e chicote para enfrentar antigos inimigos nazistas, obcecados por um objeto fabricado por nada menos do que o sábio grego Arquimedes.
Documentário de três horas e 40 minutos
Cannes costuma alternar os grandes momentos hollywoodianos com propostas mais densas. Na quinta-feira, a missão coube ao documentário Youth Spring, do chinês Wang Bing, com três horas e 40 minutos de duração.
Bing é um diretor que leva o tempo que considera necessário (cinco anos desta vez) para registrar um testemunho em filme das profundas mudanças sociais que seu país vive sob o rigoroso regime comunista. Em Youth Spring, o cineasta acompanha com sua câmera os milhões de jovens que abandonam seus vilarejos no interior do país para trabalhar em fábricas têxteis de cidades como Xangai.
Filmadas de forma discreta, às vezes até clandestinamente, as obras de Bing já foram premiadas em diversos eventos, como os festivais de Veneza ou de Locarno. Um dos destaques de sua filmografia é The Ditch (A Vala, 2010), que denuncia os campos de trabalhos forçados para prisioneiros políticos no deserto de Gobi, nos anos 1960, sob o regime de terror de Mao Tsé-Tung.
O diretor chinês apresentará outro documentário em Cannes, Man in Black, filmado em um teatro de Paris e com apenas um personagem, o compositor exilado Wang Xilin.
Outro aspirante à Palma de Ouro, o alemão Wim Wenders também apresenta dois filmes em Cannes: um longa-metragem de ficção, Perfect Days, na mostra oficial, e Anselm, um documentário sobre o artista Anselm Kiefer.