A última noite de competição no 50º Festival de Cinema de Gramado, nesta quinta-feira (18), também contou com os últimos prêmios honoríficos. Ambos foram entregues a atrizes. Ítala Nandi recebeu o troféu Leonardo Machado, e Paulina García, o Kikito de Cristal.
Esta é a segunda edição do prêmio que leva o nome do ator Leonardo Machado, morto em 2018, aos 42 anos, em decorrência de um câncer no fígado. Trata-se de um reconhecimento ao trabalho de atores, atrizes e técnicos do audiovisual gaúcho.
Nascida em Caxias do Sul, Ítala comemorou em junho 80 anos de idade. De carreira, são mais de seis décadas. No cinema, integrou o elenco de filmes como O Bandido da Luz Vermelha (de Rogério Sganzerla, 1968), Os Deuses e os Mortos (Ruy Guerra, 1970), Pindorama (Arnaldo Jabor, 1970), Barra Pesada (Reginaldo Faria, 1977) e O Cortiço (Francisco Ramalho Júnior, 1978). É considerada a primeira mulher gaúcha a dirigir um longa-metragem, em 1981, quando lançou In Vino Veritas. Na TV, atuou em novelas como O Pulo do Gato (1978), Direito de Amar (1987), Que Rei Sou Eu? (1989) e Caminhos do Coração (2007-2008).
Coube à atriz Araci Esteves, premiada nesta edição do festival com o troféu Cidade de Gramado, entregar a placa. Ítala, no seu agradecimento, lembrou das origens do Festival de Gramado e das suas próprias origens, "na Nona Légua", lá em Caxias do Sul. Demonstrou-se honrada por receber um prêmio com o nome de Leonardo Machado. Festejou o que o evento tem a oferecer e manifestou seus desejos para o Brasil:
— Precisamos da cultura. Precisamos da não violência. Precisamos da paz, das ações corretas e do amor.
Depois, foi a vez da entrega do Kikito de Cristal. Essa distinção, instituída em 2007, é voltada para expoentes do cinema latino-americano. Já foram celebrados, entre outros, o cineasta brasileiro Eduardo Coutinho, o ator Leonardo Sbaraglia e a atriz Cecilia Roth, ambos argentinos, e o astro uruguaio Cesar Troncoso.
Uma particularidade é que os artistas participam da fabricação de cada Kikito de Cristal. Não do seu próprio, mas o do próximo.
Nesta edição de 2022, a atriz chilena Paulina García atuou na confecção do prêmio de 2023 durante a tarde desta quinta, na Cristais de Gramado. Foi ela quem pressionou o molde da cabeça do Kikito no cristal retirado de um forno com temperatura na casa dos 1.200 ºC. Depois, o artefato começaria a ser resfriado em outro forno, a 480 ºC, para ser devidamente esculpido e finalizado a partir desta sexta-feira (19).
A chilena, que completa 60 anos no dia 27 de novembro, já havia sido premiada no Festival de Gramado. Foi em 2014, como melhor atriz na competição internacional por Las Analfabetas (2013). Um ano antes, alcançara sua maior conquista: o Urso de Prata de interpretação feminina, no Festival de Berlim, por Glória (2013). Entre seus trabalhos mais recentes, estão os filmes A Cordilheira (2017) e La Misma Sangre (2019) e as séries Narcos (nas temporadas de 2015 e 2016) e La Jauría (em 2022).
Na entrevista coletiva concedida na Cristais de Gramado, Paulina falou sobre a honraria:
— Prêmios são a confirmação de que estamos indo por um bom caminho. E este tem um valor enorme por ser nos 50 anos do festival e num encontro que celebra o cinema latino-americano.
A atriz também comentou sobre o avanço do streaming. Paulina entende que as plataformas são rivais das salas de cinema, mas uma aliada das produções faladas em espanhol e em português — "que estão correndo o mundo como não se via".
No palco do Palácio dos Festivais, após receber o troféu das mãos da atriz argentina Soledad Villamil, ela agradeceu a todos os que iluminaram o "túnel" que vem atravessando há 40 anos, de diretores e atores a figurinistas e maquiadoras.