Em seus 36 anos de fundação, a Pixar transformou o cenário da animação. Mas há buracos nessa história brilhante, que privilegiou projetos de homens e protagonizado por homens, mesmo quando eram um rato (em Ratatouille) ou um robô (em Wall-e). Raras são as personagens principais femininas, como em Valente (originalmente um projeto de Brenda Chapman, que foi afastada por diferenças artísticas e manteve o crédito de codireção) ou em Divertidamente.
Depois de 24 longas, a Pixar estreia o primeiro filme dirigido exclusivamente por uma mulher, Red: Crescer É uma Fera, de Domee Shi, que chegou diretamente ao Disney+ em 11 de março.
— É meio surreal estar aqui — disse Shi, em entrevista por videoconferência.
Nascida na China e criada no Canadá, Shi já tinha sido pioneira com o vencedor do Oscar Bao, o primeiro curta do estúdio assinado por uma mulher.
— Fico honrada de ter a Pixar e a Disney apoiando essa história muito específica sobre uma garota passando por uma puberdade mágica — afirmou Shi.
Red: Crescer É uma Fera foi bastante inspirado na própria experiência da cineasta. Enquanto Bao falava da relação de uma mãe e de seu filho, Red é centrado em mãe e filha.
— Precisava de no mínimo 90 minutos, porque essa relação é complicada — observou Shi. — Sou muito próxima da minha mãe, mas brigo com ela o tempo inteiro. Para mim, era um filme que precisava ser feito, porque há tanta emoção, amor, culpa e manipulação.
Meilin Lee (voz de Rosalie Chiang na versão original) é uma garota de 13 anos, boa aluna e obediente, que mora com os pais, Jin (Orion Lee) e Ming (Sandra Oh). A menina ajuda a mãe a administrar o templo da família em Toronto, na virada do século. Mei tem três amigas inseparáveis: Miriam (Ava Morse), Priya (Maitreyi Ramakrishnan) e Abby (Hyein Park). As quatro enlouquecem com a boy band 4*Town, que teve as canções compostas pelos irmãos Billie Eilish e Finneas.
Mas, de repente, a sempre bem-comportada Mei começa a querer confrontar sua controladora mãe. As emoções à flor da pele fazem com que a adolescente se transforme em um panda vermelho gigante - uma herança de família que também é uma metáfora para a puberdade em si, as transformações do corpo feminino, a explosão hormonal.
— Fazer o filme foi muito catártico — explicou Shi. — Porque durante minha vida toda fui encorajada a ser boazinha, sorrir, falar baixo, não ocupar muito espaço. E aqui há permissão para ser espaçosa, peluda, barulhenta, brava.
A produtora Lindsey Collins lembrou que houve questionamentos principalmente em relação à mãe, que espiona a filha e causa embaraço.
— É interessante, porque é justamente o que queremos dizer. Talvez ela seja demais. Mas é quem ela é. Não vamos mudá-la.
Ela elogiou, porém, que seus companheiros de estúdio tenham entendido e aprovado as personagens fortes. Segundo Collins, Red é apenas o primeiro de uma série de longas da Pixar dirigidos por mulheres e encabeçados por personagens femininas.
— Nossos filmes demoram para ser feitos, mas vocês vão ver.
É uma pena que, como no caso do filme Luca, não haverá possibilidade de assistir ao filme nos cinemas.
— Fico dividida sobre isso — concluiu Shi. — Mas pelo menos ele vai ser visto pelo maior número de pessoas possível. Eu também conheci as primeiras animações em casa, em VHS.