Naves. Viagens no tempo. Lasers. Sabres de luz. A importância da família. E uma criança espertinha. Todos esses elementos, marcantes no cinema de aventura dos anos 1980 e que faziam sucesso com a gurizada, podem ser encontrados em O Projeto Adam, a nova superprodução da Netflix estrelada por Ryan Reynolds — e que já está disponível no serviço de streaming.
Na trama, o Adam (Reynolds) de 2050 volta ao ano de 2022 para impedir que a viagem no tempo seja inventada pelo seu pai (Mark Ruffalo) e, assim, não prejudique a futuro do planeta. Para isso, porém, ele precisa pedir ajuda de sua versão de 12 anos (Walker Scobell), que sofre com problemas na escola e com uma perda familiar importante — o que também afeta a sua versão adulta. Reunidos, eles precisam consertar o passado e, de quebra, derrotar uma horda de vilões.
Para comandar o projeto, foi chamado o diretor Shawn Levy, que trabalhou recentemente com Reynolds no divertido e criativo Free Guy: Assumindo o Controle (2021). E o cineasta, por sua vez, já tem uma vasta experiência em levar nostalgia e fantasia para as telas com capricho, ao mesmo tempo em que desenvolve interessantes relações familiares: ele comandou diversos episódios de Stranger Things (2016–), além de Gigantes de Aço (2011) e da trilogia Uma Noite no Museu (2006–2014).
Com todos os ingredientes na mão, coube a Levy e seu time de roteiristas — T.S. Nowlin, Mark Levin, Jennifer Flackett e Jonathan Tropper — dosar na medida a aventura, a ficção científica e os dramas pessoais de Adam — o adulto e o pré-adolescente. E acertaram a mão. O Projeto Adam, durante 1h46min, não torna nenhum dos seus arcos cansativos. Mesmo que a questão da família tenha um destaque maior, ela aparece nos momentos de respiro da ação, desenvolvendo as relações com bastante carinho.
Decisões corretas (mas uma nem tanto)
Para que a narrativa funcionasse, a presença do estreante Scobell foi de grande importância. O garoto, que foi escolhido entre centenas de candidatos, é uma versão em miniatura de Reynolds — não tanto pela aparência física, mas por sua habilidade de imitar o astro. As tiradas rápidas e os deboches são do mesmo nível, o que gera uma divertida combinação em cena, com o adulto recebendo de volta as zoações que faz. Ao mesmo tempo, ambos convencem — e até mesmo emocionam — ao representarem os seus dramas e como eles lidam com o luto. Não é de se surpreender que, ao final da exibição, alguns marmanjos fiquem com os olhos marejados.
Outro ponto a se destacar no elenco de O Projeto Adam é que ele é recheado de nomes da Marvel: além do intérprete de Deadpool, ainda estão lá Zoe Saldana (a Gamora), Mark Ruffalo (o Hulk) e Jennifer Garner (a Elektra) — os dois últimos alegrando os fãs de De Repente 30 (2004), ao viverem novamente um casal em um filme com viagem no tempo. Quem também dá as caras é Catherine Keener, que vive a vilã unidimensional da história — o que, dentro da proposta, é até aceitável. O que não dá para engolir é o efeito especial usado para rejuvenescer a atriz, aquém do que a tecnologia atual oferece (ficou nível Jeff Bridges em Tron: O Legado, de 2010).
Apesar desta decisão equivocada — era muito mais fácil escalar uma atriz parecida para fazer a sua versão mais jovem —, todo o resto dos efeitos especiais de O Projeto Adam são bem satisfatórios, principalmente quando Reynolds luta com uma espécie de sabre de luz e derrota os vilões, que possuem um ótimo visual oitentista. Já o conceito de viagem no tempo apresentado no filme até foge um pouco do senso-comum das ficções científicas e convence por sua simplicidade, com o roteiro não exagerando nas explicações.
Originalidade
Mas vale lembrar que a história, apesar de contar com várias pitadas de clássicos nascidos décadas atrás, especialmente aqueles desenvolvidos pela Amblin Entertainment, como E.T.: O Extraterreste (1982) e De Volta para o Futuro (1985), é uma empreitada original em uma Hollywood que vive se retroalimentando de propriedades intelectuais, promovendo remakes, reboots, continuações e adaptações.
E este movimento foi recentemente feito pelos próprios Reynolds e Levy no já citado Free Guy: Assumindo o Controle (2021), uma ideia nova, sem ser baseada em nenhuma obra anterior, apenas buscando inspirações na cultura pop. Em O Projeto Adam, ambos assinam também a produção, que integra a Group Effort Initiative, criada pelo próprio astro canadense, que busca levar mais diversidade para as equipes de Hollywood.
O que resta agora é esperar para saber qual será a próxima empreitada de Ryan Reynolds. O que se sabe é que esse guri de 45 anos está com gás para fazer a alegria da molecada (incluindo aquela turminha que viu os clássicos dos anos 1980 no cinema), investindo em ideias novas, que bebem nas fontes do passado, mas que que garantem que a diversão no cinema não seja apenas focada em super-heróis. Mesmo que volta e meia ele próprio vista a máscara do Deadpool — o que é sempre bem-vindo, vale deixar claro.