A Itália do gelato artesanal está em Luca. A da massa ao molho pesto também. A nova animação da Disney/Pixar, que estreia na plataforma Disney+ nesta sexta-feira (18), é uma viagem cultural à costa italiana, na região de Gênova, mas também uma sessão de descobertas sobre a vida para o espectador.
Quem conduz essa viagem é Enrico Casarosa, cineasta italiano vencedor do Oscar de melhor animação em curta-metragem por La Luna, em 2012. Luca é um projeto autobiográfico: o protagonista homônimo ao título do filme é inspirado nele mesmo e na relação com seu amigo de infância, chamado Alberto (mesmo nome utilizado pelo amigo de Luca no filme), que Enrico conheceu aos 12 anos de idade.
— A cultura italiana foi uma forma de puxar todos para as minhas memórias e que fazem da região de Gênova muito amável. Foi o jeito que encontrei de pegar cada espectador pela mão e dizer: “Vem aqui, vamos viver isso pela primeira vez” — explica Casarosa, em entrevista por vídeo a GZH.
Na animação, Luca é um monstro marinho que sempre teve muita curiosidade em explorar o mundo, mesmo que sua mãe lhe imponha limites. Não é permitido nadar na superfície, repete ela todos os dias. Isso muda de realidade quando o pequeno encontra um antigo relógio de pilha e uma carta antiga no fundo do oceano. De quem seriam aqueles objetos? Sua curiosidade é atiçada para tentar chegar à costa.
Quando pisa na areia da praia da cidadezinha de Portorosso, ele se transforma em uma criança e acaba conhecendo Alberto, outro monstro marinho que também ganhou a forma humana. A amizade dos dois é um dos pontos altos do filme, como uma paixão à primeira vista. Eles exploram estrelas, correm pela cidade e se apaixonam pela Vespa, antiga moto italiana que se torna o objeto de consumo da dupla.
Empolgados com a ideia de conquistar uma motocicleta, Luca e Alberto se misturam em meio à criançada da cidadezinha e conhecem Giulia. Muito sincera e agitada, a garota tem o sonho de vencer uma corrida esportiva realizada anualmente ali entre os mais novos, um verdadeiro circuito de triatlo: nado, bike e, claro, comer um prato de macarronada no menor tempo possível.
Sensação
Movido por essa competição, o trio acaba trazendo o lado mais interessante de ser criança para a trama: a descoberta do mundo, desde a formação das constelações, a existência do sistema solar até a importância de se ter um amigo. Vai ser difícil não se identificar.
— Nos preocupamos em fazer um filme com crianças sendo elas mesmas, com uma contando com o apoio do outra, quebrando regras. Quando revisitamos nossas memórias, com a equipe de criação, o mais brilhante foi recuperar essa sensação do início das nossas vidas — acredita Casarosa, que trabalhou também nos times de arte de filmes como Robôs, A Era do Gelo e Up: Altas Aventuras.
Como tudo na infância, cada pequeno obstáculo ou sonho se transforma em algo grandioso. Por isso, em diversas cenas da animação, o cineasta brinca com o imaginário de Luca – ao avistar uma Vespa pela primeira vez, ele se vê pilotando a moto em um campo repleto de margaridas.
A parte visual também é um dos encantos do filme. Muitas das cenas marítimas, inclusive, farão o espectador se lembrar de Procurando Nemo, animação da Disney/Pixar que marcou gerações no início dos anos 2000. A diferença é que o oceano italiano, graças à imaginação de Luca, acaba tendo cores mais artísticas e expressionistas, na visão de Casarosa. No entanto, as conclusões das duas animações parecem estar em sintonia.
— A viagem pelo oceano acaba mostrando essa vontade de Luca de ir para o mundo, que parece estar totalmente limitado, assim como Nemo — compara Casarosa. — Ainda bem que os dois descobrem que o mundo é muito maior que isso. Essa é a sensação que precisamos ter todos os dias, em tudo o que fazemos.