A Academia Brasileira de Cinema anunciou nesta sexta-feira (15) que Deserto Particular, de Aly Muritiba, será o representante do Brasil na disputa por uma vaga na categoria melhor filme internacional no Oscar 2022.
"Fico muito feliz de ter essa responsabilidade, de levar pra os membros da Academia Norte-americana de Cinema uma outra visão, uma visão distinta de Brasil. Um Brasil mais tolerante amável. Um Brasil que está muito mais disposto ao encontro, ao sorriso e ao prazer do que à disputa, à guerra, à raiva e ao ódio", comentou Muritiba em comunicado à imprensa.
Vencedor do Prêmio do Público BNL no Festival de Veneza, o filme fará sua estreia brasileira na 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo, que começa na próxima semana. Em 25 de novembro, Deserto Particular chega aos cinemas de todo o país.
Deserto Particular concorreu com outras 14 produções. Dentre elas, estavam A Nuvem Rosa, da gaúcha Iuli Gerbase; 7 Prisioneiros, filme da Netflix dirigido por Alexandre Moratto; A Última Floresta, de Luiz Bolognesi; Medida Provisória, de Lázaro Ramos; e Carro Rei, de Renata Pinheiro.
O comitê de seleção foi formado pelos cineastas Allan Deberton, Belisário Franca e Felipe Lacerda, os produtores Paula Barreto e Leonardo Edde, a atriz Virginia Cavendish e o crítico de cinema Luiz Zanin Oricchio. A cerimônia do Oscar será realizada no dia 27 de março de 2022.
"Foi uma escolha difícil. Ficamos entre alguns filmes, considerando cinematografia, temas. Por fim, chegamos a um consenso. É sempre uma escolha difícil quem representa o Brasil pro mundo. Tivemos excelentes filmes inscritos, com uma representação muito diversa da cinematografia brasileira, de diferentes estados, e todos eles muito engajados. Deserto Particular traz um tema muito importante: como o amor pode ser um agente de transformação. É disso que o mundo precisa hoje", afirmou Leonardo Edde, em comunicado enviado à imprensa.
Deserto Particular
O longa é protagonizado por Antonio Saboia, que vive Daniel, um policial afastado do trabalho depois de cometer um erro. Ele mora em Curitiba, com um pai doente, de quem cuida com devoção. Taciturno, Daniel fala pouco, e sorri menos ainda. Seu único motivo de alegria é a misteriosa Sara, moça que mora no sertão da Bahia, e com quem se corresponde por aplicativo de celular. O súbito desaparecimento de Sara, porém, faz com que ele resolva cruzar o país em busca de seu amor.
Saboia foi o primeiro escolhido para o filme, e, conforme explica o diretor, lutou muito pelo papel. "Eu não o conhecia, mas ele havia ouvido falar do roteiro e me procurou. Depois de algumas ligações, nós enfim nos encontramos e o santo bateu. Olhei pra ele e senti a energia de Daniel. Parei pra ouvi-lo e ela tinha a voz que havia imaginado que Daniel tinha", disse o cineasta, em material de divulgação do filme.
Para Muritiba, que também é diretor da série O Caso Evandro, a cidade de Sobradinho, como cenário, serve como uma metáfora para os personagens: "Sempre me interessei por aquela pequena cidade erguida ao redor de uma enorme represa. Sobradinho é uma cidade rodeada de energia elétrica, mas também levantada sob o signo do represamento, do controle do fluxo das águas. Essa energia decorrente desse represamento movem meus personagens, mas também essa vontade de sair se derramando por aí." E filmar ali "foi um desafio proporcional à magnitude da represa que há na cidade. Havia toda uma energia no set que com toda certeza contagiou o filme", acrescentou.