Os embates entre religiões personificados em um casal apaixonado são o pano de fundo de Amarração do Amor, filme com direção de Carolina Fioratti (da série Unidade Básica) que estreia nesta quinta-feira (14) nos cinemas de Porto Alegre.
A narrativa leve e direta começa com o encontro improvável de Bebel (Samya Pascotto) e Lucas (Bruno Suzano). Atrapalhados, os dois acabam cruzando com um distribuidor de panfletos que diziam: "Trago seu amor verdadeiro em três dias". No caso deles, foi apenas um olhar. A conexão da dupla é imediata e, um ano após o encontro, eles não têm dúvidas: a hora do casamento chegou.
Mesmo com a felicidade dos dois, uma guerra divertida de opostos se inicia. Lucas vem de família umbandista e encara os julgamentos de Regina (Cacau Protásio), sua mãe e líder de terreiro que não consegue entender como o filho acabou se apaixonando por Bebel. Já ela vem de tradição judaica: o pai Samuel (Ary França) segue à risca os preceitos do rabino líder da sinagoga. Para a diretora, independentemente da religião, os espectadores irão se identificar.
— É um divertido duelo de titãs, porque eles são pai e mãe protegendo seus filhos. A nossa intenção era mostrar o que há de particular em cada uma das religiões, mas, ao mesmo tempo, ter uma linguagem que trouxesse a sensação de uma única fé — explica Carolina, que usou a fotografia, a trilha sonora e os elementos de cenários para cumprir a proposta.
Diversas leituras em grupo e consultorias personalizadas com líderes das duas religiões ajudaram na construção dos personagens, e Cacau e França reconhecem que o resultado funciona. O trabalho dos dois atores é o grande destaque da produção, junto com a personalidade forte de Cacau, que traz muito do seu bom humor para a mãe de santo.
— O talento da Cacau é inescapável e tenho certeza de que o nosso trabalho junto é o resultado da nossa energia boa, de estar com uma pessoa que, obviamente, Deus cuida o tempo todo — acredita França.
Tolerância
O longa nacional também propõe uma importante reflexão sobre a tolerância religiosa. No caso de França, esta proposta foi vivida de forma mais intensa. Ao estudar o personagem, ele recordou-se de um romance escondido que teve com uma menina judia quando era jovem. Vivendo Samuel na telona, o ator conseguiu entender que "a cultura da religião é permeável", mas que faltou diálogo naquele momento.
Para Cacau, que é católica e tem o costume de rezar todos os dias, a incursão na umbanda também lhe rendeu aprendizados. A atriz destaca que o acompanhamento de umbandistas ajudou a ver o quanto a busca pelo amor é universal – mesmo que a forma como falem de Deus seja diferente.
— Uma coisa muito legal é que todo tempo ouvi falar de Deus no terreiro. Isso para mim não tem preço. É uma fé bem diferente da minha, mas é linda. Eu rezo o terço da misericórdia todos os dias e sempre peço por todos os líderes religiosos, porque temos que proliferar o amor. É o amor que traz a paz no mundo. E lá na umbanda senti e recebi amor — garante a atriz, que segue no ar na Globo com a reprise da sétima temporada do humorístico Vai que Cola.
Por fim, a sensação é de que o filme reforça o quanto o amor é capaz de superar qualquer tipo de barreira. Na visão da diretora Caroline, o roteiro foi ainda mais além: o conceito de tolerância se expande para todas as outras religiões, já que a fé é "agregadora" e, em sua visão, "são as pessoas que segregam". Fica o aprendizado.