Reimaginando dois clássicos da literatura, Alice e Peter: Onde Nascem os Sonhos estreia nos cinemas nesta quinta-feira (3). O longa funde o universo de histórias bastante conhecidas: Alice no País das Maravilhas e Peter Pan.
Combinando drama e fantasia, Alice e Peter tem uma coadjuvante de luxo: Angelina Jolie. No longa, a atriz vive Rose Littleton. Ela e seu marido, Jack (David Oyelowo), têm três filhos — Peter (Jordan A. Nash), David (Reece Yates) e Alice (Keira Chansa). Bastante unidos, os irmãos vivem a soltar a imaginação em brincadeiras que envolvem navios piratas, chás da tarde e lutas com espadas.
Porém, uma tragédia muda completamente a vida da família. O luto se torna constante e pesa em suas rotinas. Para piorar, uma dívida antiga de Jack passa a ameaçar os Littleton. Enquanto os adultos lidam com a tristeza de forma taciturna, as crianças se refugiam na imaginação — à la Ponte para Terabítia (2007).
Pelo lado das crianças, a ficção invade a realidade. No caso, Peter visualiza elementos da história de Peter Pan, como os meninos perdidos, Capitão Gancho e navios. Já Alice enxerga o País das Maravilhas em seu cotidiano, como a Rainha de Copas, o Chapeleiro Maluco e o Coelho Branco. Diante da dura realidade, os irmãos tentam ajudar a família a sair do fundo do poço emocional e financeiro em que se encontram.
Alice e Peter é o primeiro live-action da diretora Brenda Chapman, que antes tinha seu trabalho voltado para animações. Ela codirigiu O Príncipe do Egito (1998), ao lado de Steve Hickner e Simon Wells, e Valente (2012), com Mark Andrews. O segundo lhe rendeu um Oscar de melhor animação.
Brenda traz uma proposta encantadora ao tornar irmãos dois personagens clássicos, reinventando os seus mundos. Um Peter Pan antes da Terra do Nunca, uma Alice antes do País das Maravilhas. A premissa é interessantíssima para um filme infantil. Porém, o longa foca demasiadamente nas angústias adultas, desviando-se de alcançar o que poderia ser seu principal público: as crianças. Em determinado momento, Alice e Peter vira um drama denso.
Claro que não é proibido misturar drama e fantasia. Pelo contrário. Uma virtude do filme é transmitir uma sensação agridoce ao misturar esses dois elementos. O problema é que Alice e Peter pesa a mão para a melancolia, atrapalhando-se em sua narrativa, como se não soubesse que direção tomar. O longa não atinge o equilíbrio entre o real e o imaginário. Os momentos de fantasia são fugazes e logo se esvaem por conta dos infortúnios que a família enfrenta. O conto de fadas, que, teoricamente, seria o coração de Alice e Peter, nunca se desenvolve plenamente.
Mesmo que as ambições do filme vão além do que consegue alcançar, a experiência pode ser positiva. Há belas imagens distribuídas no longa — os sonhos de crianças representados em nuvens de poeira dourada inspiram nostalgia. Há um elenco multicultural que é revigorante para o gênero. Alice e Peter evita ser somente uma refilmagem de duas histórias clássicas: trata-se de uma nova interpretação. É um filme sobre a imaginação infantil, embora tenha dificuldade em transmitir isso.