Em tempos de incerteza, a nostalgia tem sido aliada das produções hollywoodianas. Se envolver um dos príncipes mais amados do cinema, melhor ainda. Esse é o caso de Um Príncipe em Nova York 2, filme que dá continuidade ao grande sucesso da década de 1980 estrelado por Eddie Murphy. Antes previsto para ser exibido nos cinemas, o longa-metragem foi adiado diversas vezes e chega ao Brasil nesta sexta-feira (5) diretamente no streaming, pela Amazon Prime Video.
Duas celebrações diferentes são pontos de partida para os dois capítulos da vida de Akeem (Murphy), o príncipe herdeiro do país africano imaginário Zamunda. No clássico de 1988, reprisado dezenas de vezes na Sessão da Tarde, ele comemora seus 21 anos e viaja para os Estados Unidos em busca de uma candidata a esposa e princesa do reino liderado por seu pai, o rei Jaffe (James Earl Jones).
Na continuação, Akeem comemora os 30 anos de casamento com Lisa (Shari Headley), com direito a uma festa dentro de uma filial da rede de fast food McDowell’s em sua terra natal.
Com a piora no estado de saúde do pai, o príncipe se dá conta de um detalhe: a linha sucessória permite a passagem de poder somente para um homem. Suas três filhas (interpretadas por KiKi Layne, Akiley Love e Bella Murphy), mesmo com capacidade de lutar e sendo dignas de assumir o cargo, não podem ficar com o trono de Zamunda. No leito de morte, o rei revela que Akeem tem um filho bastardo nos EUA — e eis que surge um bom motivo para voltar a Nova York.
Ao chegar no Queens, bairro em que fez grandes amigos, como o barbeiro Clarence (também interpretado por Murphy), o príncipe consegue localizar o herdeiro direto, o descolado Lavelle (Jermaine Fowler). De família pobre, ele só topa viajar para Zamunda após saber da riqueza e acompanhado da mãe (a ótima Leslie Jones).
Para narrar toda essa história, a produção combina o mesmo estilo de roteiro do original — com suas sacadas divertidas — e um elenco repleto de retornos. Além de Murphy, o longa conta novamente com James Earl Jones, Arsenio Hall (como o fiel escudeiro Semmi), Shari Headley, John Amos (o pai de Lisa) e Vanessa Bell Calloway (Irmana). A história ganha peso com Wesley Snipes, como o vilão General Eazie, comandante do reino vizinho que irá tentar promover o casamento de sua filha com Lavelle.
Humor com consciência
Assim como o longa de 1988, Um Príncipe em Nova York 2 faz boas críticas sociais. A principal delas refere-se à representação das mulheres como submissas de um sistema político e social.
A questão racial também é assunto. Em entrevista recente ao Los Angeles Times, o diretor Craig Brewer (de Meu Nome É Dolemite) afirmou que o filme ganhou ainda mais relevância após os protestos do ano passado, motivados pela morte de George Floyd. Ao mesmo jornal, Eddie Murphy declarou que a produção ajuda a debater questões da sociedade, mas não deixa de ser um produto escapista. Lembrou-se de um encontro que teve com o ator Sidney Poitier, que refletiu sobre o quanto seu trabalho na indústria cinematográfica é fundamental para o público.
— Poitier disse: “Você não é Morgan (Freeman). E você não é Denzel (Washington). Você é um sopro de ar fresco. Não estrague isso”. O que importa é escapismo e não ser pesado, e isso a gente faz muito bem.