Com um ritmo alucinante, pontuado por cenas cotidianas de violência urbana, comuns nas regiões periféricas das grandes e médias cidades brasileiras, o documentário Relatos do Front, do diretor Renato Martins, estreia nesta quinta-feira (20) em Porto Alegre. Com sessões no CineBancários, às 15h e às 19h, o filme aborda a violência no Rio de Janeiro — que retrata como nenhum outro município a tragédia provocada pela guerra do tráfico de drogas — e num momento em que a Cidade Maravilhosa vive um dos períodos mais críticos em relação à segurança pública.
O clima de tensão é predominante desde as primeiras imagens, captadas em uma conflituosa operação policial, com barricadas e reação dos supostos alvos da ação. Em meio às cenas, registradas tanto pela equipe de filmagem quanto por moradores das comunidades, policiais, especialistas no tema (sociólogos e antropólogos), familiares de mortos e ex-criminosos conduzem a narrativa.
Entre os especialistas, foi ouvido o ex-investigador de polícia Guaracy Mingardi, hoje cientista político, mestre pela Unicamp e doutor pela USP. O documentário conta também com depoimentos do delegado da Polícia Civil Orlando Zaccone. Ele ficou conhecido por sua atuação no caso Amarildo, em 2013, quando rejeitou as investigações que apontavam que o pedreiro desaparecido na Rocinha, após ser detido por policiais militares, fazia parte do tráfico, e também por defender a legalização das drogas.
Mingardi e Zaccone, por conhecerem na prática o trabalho da polícia e defenderem uma humanização dessa atividade, assim como outros participantes do filme, entendem que a política de segurança pública adotada não só no Rio, mas em praticamente todo o país, tem participação decisiva na verdadeira guerra civil vivenciada nas cidades brasileiras. A cientista política Illona Szabó e o jornalista e sociólogo Bruno Paes Manso também são ouvidos pela produção.
Moradores sob fogo cruzado
Com o intuito de retratar a realidade, Relatos do Front lançou mão de exibir sepultamentos e falas emocionadas de mães de vítimas.
As críticas são direcionadas, por exemplo, às ações baseadas nas incursões policiais em áreas de conflito, que provocam confrontos nos quais moradores acabam ficando sob fogo cruzado. Da mesma forma, é condenada a política armamentista, considerada ineficaz, em detrimento de investimentos em treinamento e inteligência dos órgãos de segurança.
De um modo geral, o documentário, de 95 minutos, mostra que todos os personagens são direta ou indiretamente vítimas da guerra das ruas do Rio. É uma obra útil para explicar a violência urbana, papel desempenhado nos anos 1990 pelo documentário Notícias de uma Guerra Particular, de João Moreira Salles.