Conhecido pelo seu trabalho como encenador de teatro, Felipe Hirsch já havia se aventurado pelo cinema (com Insolação, codirigido por Daniela Thomas em 2009) e pela televisão (realizou A Menina Sem Qualidades para a MTV em 2013). Com Severina (2017), seu primeiro filme solo, demonstra mais maturidade e segurança – justamente na difícil condução de um suspense fundamentado na entrega e na ocultação de informações ao espectador.
O longa estreia nesta quinta-feira (12/4) no CineBancários e na Sala Eduardo Hirtz, e tem ainda uma sessão seguida de debate, às 19h30min, na Cinemateca Capitólio, com as presenças da crítica Fatimarlei Lunardelli e do músico Arthur de Faria, autor da trilha sonora.
A trama de Severina se passa inteiramente em uma Montevidéu deserta – e, justamente por isso, instigante. Acompanha a rotina de um livreiro (Javier Drolas), que vive de maneira pacata e solitária. Até que entra em sua loja uma misteriosa garota (Carla Quevedo), que chama sua atenção pela beleza e, também, porque parece estar roubando alguns livros.
Ela roubou, ele constata. Mas o alarme instalado à porta só dispara quando o próprio livreiro sai do estabelecimento, o que dá uma pista das pretensões de Hirsch, que tomou a história emprestada de um romance de Rodrigo Rey Rosa: seria a mulher fruto de sua imaginação?
A resposta é menos óbvia do que parece, ainda que o roteiro de Hirsch seja um tanto redundante ao enfatizar a insegurança do protagonista e a forma manipuladora como sua nova musa age. Ambos também têm contradições – forma que o diretor e roteirista encontrou para intrigar o espectador, posicionando-o entre o lugar de um deus onisciente e o de uma testemunha que consegue ver apenas parte do que está acontecendo.
Quanto menos informações temos da garota, e temos poucas, mais envolvente fica o jogo. Essa atmosfera de mistério e alguma ambiguidade, repleta de sugestões (verbais e imagéticas), cria expectativa sobre o que virá a seguir, enriquecendo a fruição.
Aonde isso vai levar? Aí é que está o problema. Severina é um filme falado em castelhano, com belas citações literárias em língua hispânica (a sugestão de que a garota seria uma obsessão tal qual o Zahir de Borges é particularmente rica) e participações de atores latino-americanos conhecidos (o uruguaio Daniel Hendler, o chileno Alfredo Castro), que instiga e entretém. Mas que, para encaminhar seu desfecho, evoca novos personagens (o cúmplice dela, o outro livreiro) e, com eles, soluções externas aos conflitos previamente estabelecidos.
Isso não causa necessariamente um estranhamento, mas prejudica a adesão do público à trama. E, no fim das contas, em um filme cuja força reside na criação de climas, faz a diferença.
SEVERINA
De Felipe Hirsch
Suspense, Uruguai/Brasil, 2017, 103min.
Estreia nesta quinta-feira (12/4) em Porto Alegre.
Sessões diárias no CineBancários e na Sala Eduardo Hirtz da Casa de Cultura Mario Quintana. Sessão comentada às 19h30min na Cinemateca Capitólio.
Cotação: 3 estrelas (de 5).