Como se fosse a denominação de origem controlada que atesta a procedência e a qualidade dos bons vinhos, a expressão "cinema argentino" ganhou, no Brasil, o sentido de um gênero cinematográfico em si. É uma percepção um tanto equivocada, aguçada pelos filmes que conseguem passar pelo filtro das distribuidoras brasileiras e encontrar espaço no funil do circuito comercial. Aqueles que costumam cair nas graças do grande público apresentam, de forma geral, boas histórias agridoces erguidas a partir se roteiros robustos.
É consenso que, na Argentina, o modelo de filme nacional que dialoga com multidões é bastante distinto do consagrado no Brasil – lá, campeões locais de bilheteria são títulos como Cidadão Ilustre, em cartaz no Brasil, e Neve Negra, que estreia nesta quinta-feira . E é também provável que a maior parte dos admiradores desse genérico "cinema argentino" desconheça a diversidade dessa linha produção.
Leia também:
Ricardo Darín estrela drama de crime e mistério "Neve Negra", ambientado na gelada Patagônia
Chegam ao circuito comercial do Brasil apenas uma fração dos títulos produzidos no país ao lado, de maneira geral avalizados por números de bilheteria, prêmios em festivais e por particularidades curiosas como o "fator Ricardo Darín", combinação que o galã portenho apresenta de carisma, talento e regularidade nos bons trabalhos.
Com dois Oscar de melhor filme estrangeiro conquistados e dezenas de prêmios relevantes erguidos nos mais importantes festivais internacionais, a Argentina tem apresentado desde o começo dos anos 2000, época em que crises econômicas e políticas severas abalaram o país, filmes, diretores e atores que colocaram sua cinematografia entre as mais destacadas do cinema mundial. Prestígio alcançado tanto com títulos de apelo comercial – como os que o público brasileiro passou admirar, entre eles o oscarizado O Segredo de Seus Olhos e o fenômeno Relatos Selvagens – quanto por obras mais radicalmente autorais, como as assinadas por Lucrecia Martel e Lisandro Alonso, entre outros nomes.
Zero Hora pediu a cineastas, críticos e programadores de espaços de cinema alternativos indicações de cinco filmes dos anos 2000 fundamentais para ilustrar a qualidade e a diversidade do cinema argentino. As listas trazem nomes pouco conhecidos no Brasil, como Milagros Mumenthaler, de Abrir Puertas y Ventanas (2011).
– É uma realizadora que conheci faz pouco, e tomara que a gente veja mais filmes dela em um futuro próximo – diz Tânia Cardoso, diretora da Sala Redenção, no Campus Central da UFRGS.
O cineasta e professor de cinema Gustavo Spolidoro cita Glue (2006), de Alexis dos Santos, como "um filme realmente radical", e História Mínimas (2002), de Carlos Sorin, como "um filme que mostra como ser criativo com pouco dinheiro, para mim, a cara do cinema argentino". Já Leonardo Bomfim, crítico de cinema e programador da Cinemateca Capitólio, destaca, junto a longas assinados por Lisandro Alonso, Lucrecia Martel, Matias Piñeiro e Martin Rejtman, Histórias Extraordinárias (2008), de Mariano Llinás.
– Histórias Extraordinárias é o essencial. É pouco visto, tem quatro horas, mas é um filme muito importante dentro do cinema contemporâneo.
Nas listas abaixo, estão filmes referenciais dirigidos também por nomes mais conhecidos do público brasileiro, como Juan José Campanella, Daniel Burman e Pablo Trapero, este representado por quatro longas, entre eles El Bonaerense (2002), lançado no Brasil como O Outro lado da Lei. E, lógico, tem também – e não apenas – filmes estrelados por Ricardo Darín.
Cinco filmes argentinos referenciais produzidos nos anos 2000
Bia Barcellos, curadora e diretora do CineBancários
Leonera (2008), de Pablo Trapero
O Pântano (2001), de Lucrecia Martel
O Abraço Partido (2004), de Daniel Burman
O Homem ao Lado (2009), de Gastón Duprat e Mariano Cohn
Lugares Comuns (2002), de Adolfo Aristarain
Carlos Gerbase, cineasta e professor de cinema
XXY (2007), de Lucía Puenzo
O Pântano (2001), de Lucrecia Martel
El Bonaerense (2002), de Pablo Trapero
Medianeras (2011), de Gustavo Taretto
Um Conto Chinês (2011), de Sebastián Borenszteinn
Gustavo Spolidoro, cineasta e professor de cinema
O Pântano (2001), de Lucrecia Martel
Família Rodante (2004), de Pablo Trapero
Glue (2006), de Alexis dos Santos
O Homem ao Lado (2009), de Gastón Duprat e Mariano Cohn
Histórias Mínimas (2002), de Carlos Sorin
Leonardo Bonfim, crítico de cinema e programador da Cinemateca Capítólio
A Liberdade (2001), de Lisandro Alonso
A Menina Santa (2004), de Lucrecia Martel
Historias Extraordinárias (2008), de Mariano Llinás
A Princesa da França (2014), de Matias Piñeiro
Dois Disparos (2014), de Martin Rejtman
Marcus Mello, crítico de cinema e editor da revista Teorema
O Pântano (2001), de Lucrecia Martel
El Bonaerense (2002), de Pablo Trapero
Os Mortos (2004), de Lisandro Alonso
Glue (2006), de Alexis dos Santos
Dois Disparos (2014), de Martín Rejtman
Paulo Henrique Silva, presidente da Associação de Críticos de Cinema do Brasil – Abraccine
O Pântano (2001), de Lucrecia Martel
Las Acacias (2011), de Paolo Giorgelli
O Abraço Partido (2004), de Daniel Burman
O Clã (2015) , de Pablo Trapero
O Segredo de seus Olhos (2009), de Juan José Campanella
Tânia Cardoso, diretora e curadora da Sala Redenção da UFRGS
Nove Rainhas (2000), de Fabían Bielinsky
XXY (2007), de Lucía Puenzo
A Menina Santa (2004), de Lucrecia Martel
O Segredo de seus Olhos (2009), de Juan José Campanella
Abrir Puertas y Ventanas (2011), de Milagros Mumenthaler