Os quatro andares da Fundação Iberê Camargo serão ocupados com diferentes olhares sobre o Brasil atual a partir das 14h deste sábado (6), quando o centro cultural abre as portas para receber a 15ª edição do Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre, o FestFoto. O evento, já consagrado como uma das mais importantes mostras fotográficas do país, volta ao formato presencial (a edição de 2021 ocorreu de forma online) apresentando a exposição Terrarium, em cartaz até o dia 21 de agosto, com visitação gratuita de quarta a domingo, das 14h às 18h30min.
Terrarium, nome escolhido para batizar a edição que marca os 15 anos do festival, deriva do conceito de terrário, uma técnica muito usada na jardinagem para recriar em determinado recipiente as condições necessárias para a vida de um ser vivo. É um pouco do que as casas viraram durante os últimos dois anos de pandemia de covid-19, na constante luta entre a necessidade do isolamento social e a necessidade humana do contato e a busca por formas de recriar condições para a vida neste contexto atípico.
E é, de acordo com Sinara Sandri — coordenadora do festival, ao lado de Carlos Carvalho –, em certa medida também o oposto do que o homem tem feito com o planeta Terra. Muito longe de torná-lo um local seguro e propício à manutenção da vida, como são os terrários, o que se tem visto é o avanço do desmatamento, das queimadas, do genocídio dos povos originários e da exploração pouco responsável dos recursos naturais — temas que há alguns anos vêm sendo tratados pelo festival e que voltam com ainda mais força nas fotografias que estampam esta 15ª edição.
— Eu diria que esta edição é a síntese do que o festival já vinha trabalhando, das contaminações que já vínhamos tendo a partir dos processos artísticos. A fotografia é muito atenta ao que está acontecendo no mundo e faz uma leitura muito rápida dessas tendências, e esses temas (os temas desta edição) significam que a fotografia não esquece o que está acontecendo no país. Voltam, por exemplo, as questões dos desastres ambientais em Minas Gerais, as queimadas no Mato Grosso... Isso deixa evidente que a fotografia brasileira não ignora a conjuntura e está permanentemente atenta — analisa Sinara.
O destaque para a fotografia feita por brasileiros não é por acaso. Diferentemente das edições anteriores, nas quais o número de fotógrafos nacionais e estrangeiros assinando as obras era quase metade a metade, esta edição tem apenas um artista internacional entre os expositores. Foi uma coincidência, mas uma coincidência que, para a coordenadora, exprime bem o altíssimo nível que a fotografia do país atingiu nos últimos anos, e que poderá agora ser comprovado pelo público.
— Do ponto de vista do trabalho fotográfico que vai ser mostrado, sem nenhuma dúvida eu diria que é o que tem de mais recente e de maior qualidade dentro da fotografia brasileira hoje — garante a coordenadora.
As obras poderão ser contempladas a partir de uma divisão em três miniexposições que, espalhadas pelos quatro andares da Fundação Iberê, compõem a grande mostra Terrarium. A primeira delas consiste nos 20 trabalhos finalistas do Fotograma Livre, concurso realizado anualmente pelo FestFoto que este ano teve como guia a provocação "O que é possível cultivar nestes territórios e mundos individuais em que somos obrigados a permanecer durante confinamentos de distintas naturezas?", já em diálogo com o conceito de terrário. Entre estes, destacam-se a série Em Nome da Mãe e do Pai, de Luiza Kons, vencedora do concurso na categoria Portfólio, e Céu de Urucum, de Mari Gemma De La Cruz, vencedora na categoria Multimídia.
Há ainda a mostra Terrarium brasiliensis, composta por obras produzidas ao longo de um semestre por um grupo de estudo e experimentação fotográfica formado por 15 artistas sob a orientação dos coordenadores do FestFoto. Entre elas está a produção de Juliana Sícoli, 120 Volts, uma série que aborda a atual e histórica violência contra a mulher no Brasil, com destaque para os abusos manicomiais aos quais mulheres em sofrimento psíquico eram submetidas entre os anos 1940 e 1980, descobertos a partir de um trabalho de pesquisa feito pela fotógrafa.
Por fim, a mostra Brutalismo reúne fotografias e séries de fotografias que alertam para a relação abusiva do homem com o meio ambiente no Brasil. As obras percorrem cenários que vão desde a exploração de minério em Minas Gerais, abordando catástrofes como os rompimentos de barragens no Estado, até a derrubada de castanheiras no Pará.
O resultado final da programação, que ainda deve contar com palestras e seminários online a partir de setembro, em datas ainda não definidas, é motivo de orgulho para a coordenadora Sinara Sandri. Ela destaca as dificuldades enfrentadas pelo festival para conseguir realizar esta edição, não somente pela incerteza trazida pela pandemia, mas também pelo período delicado que a cultura vive hoje no país.
— A gente superou um mau tempo violento. Este ano foi um ano péssimo. Dos últimos, talvez tenha sido o pior. O festival está sendo feito porque todo mundo que esteve envolvido é realmente muito bom, porque as pessoas todas foram muito responsáveis e dispostas a produzir e fazer esse trabalho chegar ao público. A minha conclusão a partir disso é que Porto Alegre é um lugar de excelência na produção cultural. Tu tens uma massa crítica de profissionais que entendem o conceito e melhoram o conceito, o que para mim é um motivo de grande alegria — diz.
Festival Internacional de Fotografia de Porto Alegre – FestFoto
- Em cartaz de 6 a 21 de agosto, na Fundação Iberê Camargo (Av. Padre Cacique, 2000), em Porto Alegre.
- Visitação gratuita de quarta a domingo, das 14h às 18h30min (última entrada às 18h).