Uma das mais icônicas instituições culturais do Estado está prestes a digitalizar todo o seu acervo. Se entre 2011 e 2012 o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs) trabalhou para disponibilizar gratuitamente suas obras de arte na internet, agora é a vez dos documentos. Entre periódicos e dossiês, são mais de 250 mil páginas que devem ser escaneadas e colocadas em uma plataforma ao longo de 12 meses de trabalho.
— Quando digitalizamos, estamos democratizando o acesso e também garantindo a segurança do material, sobretudo do acervo documental, que é todo em papel e vem desde os anos 1950. Claro que a gente nunca pensa que isso vai acontecer, mas se acontece um incêndio, ou uma inundação, o acervo estará seguro — destaca o diretor-curador do museu, Francisco Dalcol.
Foi graças a uma parceria com o Consulado-Geral dos Estados Unidos em Porto Alegre e com a Associação de Amigos do Margs que a digitalização do acervo documental pôde ser realizada. O projeto foi enviado ao Fundo de Embaixadores para Preservação Cultural, que destina recursos para a preservação do patrimônio cultural em outros países. Depois de passar por uma avaliação — que incluiu visitas de funcionários da instituição americana —, o Margs foi contemplado com um financiamento de US$ 42 mil (equivalente a R$ 213 mil).
Equipamentos
O montante permitiu a compra de dois escâneres e computadores, além de garantir a contratação de uma equipe para trabalhar ao lado dos funcionários do museu. Atualmente, estão envolvidos no projeto profissionais de história da arte, artes visuais, biblioteconomia, museologia, arquivologia e tecnologia da informação.
— É uma aquisição para o museu, porque os escâneres ficam em caráter permanente. Essa é a importância desse aporte, porque projeta para a frente e vem qualificar até a tecnologia da instituição — destaca Dalcol.
Em relação à parte técnica do processo, são dois tipos de arquivos que o escâner é capaz de gerar. Conforme o arquivista Raul Holtz, para o público será disponibilizado um documento em formato PDF/A, pesquisável. Já o formato de imagem TIFF, de maior resolução, será reservado à preservação dessas informações. Ainda assim, pesquisadores e entidades que precisarem de uma imagem maior poderão solicitar ao museu, como já ocorre com o acervo artístico.
Até o momento, foram geradas mais de 70 mil imagens. Contudo, por se tratar de papel, há alguns cuidados que precisam ser tomados durante o processo.
— Temos documentos que remontam a 1954, quase 70 anos. Tem que ter o máximo de cuidado com o manuseio, tem que usar luvas, cuidar para não dobrar. O escâner já trata automaticamente as imagens, mas temos que verificá-las para fazer um controle da qualidade — explica Holtz.
Etapas
Para organizar todo o material, o processo foi dividido em etapas. Na primeira fase, em que o projeto atualmente se encontra, o enfoque está nos periódicos produzidos pelo Margs — revistas, jornais e boletins informativos que visam a divulgar ações, exposições e eventos no museu. Alguns têm artigos e entrevistas com profissionais da área.
— Claro que tem um pouco de saudosismo entre nós, mas olhar para essas publicações é olhar para o passado e acessar essa época. Esse túnel do tempo nos permite perceber a importância do Margs na constituição do espaço público de debate e também é uma forma de conhecer melhor a instituição e os caminhos que ela tomou — diz Dalcol.
Depois, a digitalização irá abarcar a coleção de materiais gráficos e publicações do museu, o que inclui atividades como exposições, oficinas e cursos. Por fim, irá se debruçar sobre os dossiês sobre a biografia, a atuação e a trajetória de artistas e agentes, como críticos e historiadores da arte. Nesta seção, está inclusa a maior parte do acervo documental de Iberê Camargo e do crítico Aldo Obino.
Ainda há a chance de que o projeto seja disponibilizado em partes, antes de todos os documentos terem sido escaneados, mas Dalcol diz que essa decisão só vai ser tomada daqui a alguns meses. Por enquanto, a certeza é que até o final de 2022 todo o acervo do Margs estará em segurança e eternizado.