Um dos grandes nomes da arte brasileira, o pernambucano Francisco Brennand morreu, nesta quinta-feira (19), aos 92 anos, em Recife (PE). O artista plástico e ceramista estava internado havia 10 dias no Real Hospital Português, por conta de uma infecção respiratória. A informação é do JC Online, de Recife. O governo estadual de Pernambuco anunciou que decretará luto oficial de três dias.
O velório será realizado na capela Imaculada Conceição, na Oficina Cerâmica Francisco Brennand, em Recife. Recentemente transformado em instituto, o local é um patrimônio cultural de Pernambuco e do Brasil. Trata-se de um antigo engenho e fábrica de cerâmica que o artista herdou de seu pai e transformou em um monumental museu a céu aberto. O local, a cerca de 30 quilômetros do centro de Recife, recebe visitantes de todo o mundo curiosos para conhecer as esculturas em cerâmica que compõem uma espécie de mitologia particular de Brennand.
As obras do artista plástico também são parte importante da paisagem do centro de Recife: integram o Parque das Esculturas, um dos principais pontos turísticos da cidade.
Modernista, Brennand ancorava suas obras nas mitologias grega e latina, na história e na literatura. Criou uma obra sem paralelos na arte brasileira, celebrada pelo caráter sensual, primitivo e místico. Em 2016, concedeu entrevista a Zero Hora e comentou sobre o que chamou de caráter "arcaico" de sua obra:
– Desde o momento em que você se compromete com os quatro elementos – o fogo, a terra, a água e o ar –, você não tem como fugir desses elementos primitivos, primordiais, independentemente da linguagem ou vontade. Esse arcaísmo não é voluntário. Não é que eu queira voltar a ser um índio ou um homem das cavernas. Não é nada disso. É porque é a linguagem própria da cerâmica.
O artista nasceu em Recife, em 11 de junho de 1927. Começou a carreira pintando na década de 1940. Foi depois de uma viagem à França, em 1949, quando viu cerâmicas de Picasso, que o artista decidiu se dedicar à escultura em cerâmica pela qual se tornou reconhecido mundialmente.
Desde 1971 trabalhando isoladamente em sua oficina, o escultor relutava em expor fora de Recife. Fez a primeira grande exposição de cerâmicas somente em 1998, na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Em 2004, o artista inaugurou uma exposição retrospectiva de seu trabalho no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Foi sua primeira viagem à região Sul do país. Na ocasião, comentou a sensualidade se suas obras – famosas pelas formas fálicas, vaginadas e ovóides – em entrevista a Zero Hora:
– O pensamento central das minhas obras é a reprodução. Por isso, o ovo é uma imagem recorrente. O primado dessa pesada carga sexual que minhas peças carregam responde à função da reprodução. O grito da mulher no orgasmo é muito parecido com o grito do parto. O sexo tem um sentido cósmico.
Na época, também falou de seus planos para a Oficina Brennand:
– Trata-se de um work in progress, não tem fim. Quando me perguntam quantas obras tenho no meu ateliê, respondo que são 1.001. Mil e uma peças é o infinito.
Em 2016, Brennand foi tema de uma grande exposição em Porto Alegre: Senhor da várzea, da argila e do fogo, com curadoria de Emanoel Araujo, no Santander Cultural (atual Farol Santander). Mais de 80 obras do artista foram apresentadas – esculturas, pinturas e murais, além de filmes sobre o artista e fotografias que reproduziram seu ateliê.
Antes disso, em 2008, o Museu Universitário, no Campus Central da UFRGS, havia recebido uma mostra itinerante do Centro Cultural Banco do Brasil intitulada Brennand – Uma Introdução, com uma extensa série de esculturas, pinturas e desenhos de Francisco Brennand curadas por Olívio Tavares de Araújo.
Em 2012, sua vida e obra inspiraram o premiado documentário Francisco Brennand, dirigido pela neta do artista, Mariana Brennand Fortes.