Assassinada pelo noivo em 1940, a estudante Maria Luiza Haüssler até hoje ronda a Lagoa dos Barros, entre Santo Antônio da Patrulha e Osório. Em noites de lua cheia, seu fantasma aparece vestido de branco nos arredores da Agasa. Pelo menos é isso que diz a lenda da noiva da lagoa. A história, inspirada pelo caso real da jovem que foi morta pelo noivo Heinz Werner e abandonada no local, voltou ao noticiário no mês passado quando o Instituto-Geral de Perícias encontrou os antigos laudos da investigação.
Agora, esses documentos podem ser vistos pelo público em um contexto peculiar: foram emprestados para a exposição Travessia por Terra, Água e Ar, da artista e professora do Instituto de Artes da UFRGS Lilian Maus. A mostra pode ser visitada gratuitamente no subsolo da antiga prefeitura da Capital, um ambiente escuro com vocação para histórias de fantasma. Lilian, que há anos aborda a natureza e a história de Osório em obras de arte, exibe cerca de 30 trabalhos, incluindo pinturas, fotografias, vídeos e instalações.
O famoso crime tem lugar de destaque na mostra. Encarnando uma detetive, a artista pesquisou arquivos históricos e conversou com pessoas que juram ter visto o fantasma. Dessa investigação, nasceram instalações artísticas que reúnem pinturas, reportagens, vídeos e documentos reais da investigação do crime, incluindo laudos, fotos da vítima, um mapa e até as balas usadas pelo assassino. Para Lilian, a arte traz novas reflexões sobre o episódio:
– A arte é uma maneira de dar uma forma para esse imaginário que não é só meu. Ela torna visível algo que não é visível, dá uma estética para esses documentos, questionando o que é ficção e o que é real.
Paisagem de Osório
Natural de Salvador, Lilian tem 35 anos, cresceu em Osório e depois retornou à região para instalar seu ateliê. Inspirada pela riqueza natural, acabou mergulhando também na história e na economia local, envolvendo-se com as causas da comunidade. Essa imersão rendeu várias exposições nos últimos cinco anos e está reunida pela primeira vez em Travessia por Terra, Água e Ar. O título se refere aos três eixos da exposição. Das lagoas, Lilian coletou amostras de água que utiliza nas pinturas. Trouxe também troncos de árvores que compõem a instalação Avistamento (foto abaixo). Filmou, desenhou e pintou os animais que vivem na mata. E, por fim, lançou um olhar poético ao vento, que tanto influencia o município conhecido pela usina eólica.
A artista faz questão de basear as obras em muita pesquisa. Assim como foi detetive ao olhar para a lenda da lagoa, quando desenha plantas e animais, ela vira cientista, consultando especialistas no tema.
– O cientista primeiro observa para depois concluir e acho essa abertura para o mundo muito bonita. Só quem se aprofunda na descrição de outro ser é que consegue se colocar no lugar do outro. O que a gente não conhece, a gente não valoriza – afirma Lilian, para quem artistas, cientistas e também detetives têm muito em comum.
Travessia por terra, água e ar
- De Lilian Maus
- Abertura quinta-feira (24/10), às 18h30min.
- Pinacoteca Aldo Locatelli, no subsolo do Paço Municipal (Praça Montevidéu, 10), Centro Histórico, Porto Alegre.
- Visitação: de segunda a sexta, das 9h às 12h e das 13h30 às 17h30, até 10 de janeiro.
- Rodada de perguntas e respostas com a artista: 12 de dezembro, às 19h.