Um dos maiores artistas plásticos do Rio Grande do Sul nascia há exatamente cem anos, em 7 de agosto, Dia do Escultor Gaúcho. O centenário de Francisco Stockinger (1919-2009) será comemorado em Porto Alegre com diversas atividades. Quem toma a dianteira é o Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), que inaugura a exposição Stockinger 100 Anos nesta quarta-feira (7/8), das 18h às 21h. A instituição é especialmente próxima do artista, que foi seu diretor por duas vezes e, há 10 anos, foi velado em suas galerias.
Outra iniciativa de destaque parte da prefeitura de Porto Alegre: a Secretaria de Cultura tem projeto aprovado no valor de R$ 300 mil na Lei Rouanet para restaurar três painéis do artista e fazer manutenção e limpeza de oito de suas esculturas públicas. O projeto encontra-se em fase de captação de recursos e deve ser executado em 2020.
Com Iberê Camargo e Vasco Prado, Xico Stockinger compõe a tríade de mestres da arte modernista gaúcha. Ao contrário dos outros dois, que nasceram no Estado e buscaram formação na Europa, Xico nasceu na Áustria, veio para o Brasil ainda criança, em 1921, e só com 35 anos chegou a Porto Alegre, em 1954, com a esposa gaúcha. Tornou-se indiscutivelmente gaúcho, com obras espalhadas por espaços conhecidos da Capital, como o Parque Marinha do Brasil, a Redenção, o Túnel da Conceição e a Praça da Alfândega – é lá que está Monumento à Literatura (2001), escultura em que Carlos Drummond de Andrade, em pé, lê para Mario Quintana sentado em um banco (a obra foi feita em parceria com Eloisa Tregnago).
Por aqui, ganhou fama primeiro como gravurista, enquanto trabalhava com diagramação e charge na imprensa local. Na década de 1960 despontou como escultor. Segundo o historiador da arte José Francisco Alves, autor de uma biografia sobre Stockinger, sua principal contribuição para a arte veio neste momento:
– O ferro e a madeira eram unidos para criar uma forma muito particular, figurativa e moderna. Ele criou esse procedimento para poder fundir obras grandes. Se usasse apenas ferro, ficariam muito pesadas e pequenas. Assim, fez esculturas incríveis no final dos anos 1960, misturou ainda ossos e outros materiais com ferro e madeira soldada. Ao final dessa década, era um dos maiores artistas brasileiros, e os anos seguintes foram consequência dessa produção.
A célebre série Guerreiros é o principal exemplo do uso dessa técnica e seu maior sucesso comercial. Até o fim da vida receberia encomendas desses homens e mulheres que simbolizam, para ele, uma luta contra a opressão e a ditadura militar.
Até abril de 2009, quando morreu, as esculturas foram crescendo cada vez mais, assim como a influência de Stockinger, que, apesar de surdo, tinha voz ativa no sistema das artes gaúchas. Além do Margs, dirigiu a Associação Riograndense de Artes Plásticas Chico Lisboa e, ao lado de Carlos Scarinci, foi um dos fundadores, professor e primeiro diretor do Atelier Livre da Prefeitura de Porto Alegre.
Panorama
Ao todo, mais de cem obras foram reunidas nas três pinacotecas do Margs. A proposta de Stockinger 100 Anos é oferecer um panorama das fases do artista, com Gabirus, Guerreiros, esculturas em pedra, figuras femininas, gravuras, desenhos, documentos e até um baralho ilustrado pelo artista.
Apesar de possuir 64 obras assinadas por Xico, o Margs optou por uma mostra que combina peças do acervo próprio com coleções particulares e de outras instituições públicas de Porto Alegre. Dessa maneira, puderam ser incluídas esculturas menos conhecidas, como um conjunto de figuras femininas datadas do final dos anos 1990 (foto). Em uma sala com obras de forte carga emotiva, elas estão ao lado dos conhecidos Gabirus, que retratam a miséria dos migrantes nordestinos.
O público frequente do Margs reconhecerá muitas outras, a começar pelo Guerreiro (2008), que está sempre a postos na escadaria do museu e foi deslocado para a entrada da mostra. Trata-se da maior escultura já feita pelo artista, com 3m35cm de altura, produzida em sucata de metal e madeira.
– É um compromisso pessoal meu e um dever do Margs homenagear o Stockinger. Tem um público que vai reencontrar a obra e outro que vai conhecer – afirma o diretor do Margs, Francisco Dalcol, que assina a curadoria da mostra ao lado da curadora-assistente, Fernanda Medeiros.
O museu logo deve anunciar atividades paralelas à mostra.
Stockinger 100 anos
- Abertura quarta-feira (7 de agosto), das 18h às 21h
- Margs (Praça da Alfândega, s/nº).
- Visitação: de terça a domingo, das 10h às 19h. Até 24 de novembro.
- Entrada franca.