
Na arte, a paisagem frequentemente diz mais a respeito de seu autor do que sobre o lugar que representa. É uma cena construída com tintas (ou outro material), mas também com sensações, referências culturais, lembranças de infância... Na exposição que o Margs inaugura nesta quarta-feira (19/9), o fio condutor é a estreita ligação da paisagem com a memória. A convite da instituição, o curador José Francisco Alves buscou no acervo obras capazes de evocar tanto deleite quanto sofrimento – demonstrando o quão variado pode ser o gênero artístico que se consolidou no século 19 – e reuniu obras de 43 artistas, como Cândido Portinari, Leopoldo Gotuzzo e Glauco Rodrigues, entre outros.
Intitulada Paisagem e Memória, como o livro referencial do historiador da arte britânico Simon Schama, a exposição ocupa três galerias no segundo andar do museu com cerca de 50 obras. São cenários rurais e urbanos, como fazendas, praças, matas e praias. Criados por artistas que viveram no Rio Grande do Sul, alguns trabalhos têm referência geográfica clara. É possível comparar diferentes visões sobre um mesmo lugar, como as três versões da ponte de pedra de Porto Alegre ou o antigo riacho Ipiranga, pintado por Iberê Camargo (1914 – 1994) e Libindo Ferrás (1877 – 1951). Há ainda outros pontos da Capital representados, como a Praça XV e a Praça da Alfândega. Já a praia de Torres aparece tanto em obras de Carlos Petrucci quanto de Francis Pelichek. Outros quadros são menos precisos, mas também familiares, como o campo que Rosa Bonheur (imagem abaixo) provavelmente pintou na Europa, mas que facilmente poderia ter sido criado no Rio Grande do Sul.
– A paisagem é uma obra da mente, as camadas de lembranças são tão importantes quanto o que estamos vendo. Então as pessoas podem se identificar com as obras – pontua o curador.

Embora haja fotografias, desenhos e gravuras, a maioria dos trabalhos é pintura, especialmente óleo sobre tela, e é datada da primeira metade do século 20. Muitas já foram vistas pelo público frequentador do museu:
– Como nessa faixa o acervo do Margs não é muito numeroso, trouxemos as pinturas mais históricas de paisagem e tentamos colocar elas em outra situação, fazer outras analogias, para ver com outro olhar coisas já conhecidas – afirma Alves.
O curador não esconde a preferência por Tempora Mutantur (imagem no topo da página), uma das obras mais conhecidas do acervo do Margs, com passagens por exposições internacionais. Com 110 cm de altura por 144cm de largura, é um dos maiores quadros de Pedro Weingärtner (1853 – 1929). A cena rural pintada há 120 anos mostra imigrantes europeus trabalhando no campo e está distante do ideal bucólico muito associado à palavra "paisagem":
– É um casal estafado pela labuta que é transformar a paisagem na sua subsistência. A gente nunca pensa na paisagem como trabalho duro – reflete Alves.

Paisagem e Memória
- Abertura quarta-feira (19 de setembro), às 19h;
- Galerias Iberê Camargo, Oscar Boeira e Pedro Weingärtner do Margs (Praça da Alfândega, s/nº);
- Curadoria: José Francisco Alves;
- Visitação de terças a domingos, das 10h às 19h, a partir de amanhã até 18 de novembro;
- Entrada franca.