A exposição Porquai pas? (Por que não?, em português), da ex-consulesa da França no Brasil Alexandra Loras, gerou uma série de manifestações a respeito da prática do blackface. Nas obras, a artista escureceu digitalmente a pele de 20 celebridades e figuras políticas brancas, além de adicionar alguns traços afrodescendentes, como a mudança no cabelo, no contorno do rosto etc. Sob a curadoria do artista e grafiteiro paulistano Enivo, Alexandra escolheu personalidades como Donald Trump, Rainha Elizabeth, William Waack, Marilyn Monroe, Silvio Santos, João Doria, Dilma Rousseff, Michel Temer, Geraldo Alckmin, Xuxa e Gisele Bündchen.
Após divulgar a exposição em sua conta no Facebook, a artista recebeu uma série de comentários críticos em relação à prática utilizada nas obras. Acusaram-na principalmente da utilização de blackface, técnica racista que teve início no teatro do século XIX e consistia em escurecer a pele de atores brancos para interpretar personagens negros.
Alexandra fez um post em seu perfil no Facebook se defendendo das acusações. A artista afirma:
– Em momento algum essa antiga prática norteou a concepção das obras da minha exposição. Como sou negra, abordar a negritude é meu espaço de fala. Se Gisele Bündchen estivesse se pintando de ‘nega-maluca’, seria um blackface, mas eu como negra, modificar a estética da narrativa visual dessa forma, é arte. Arte engajada, onde deixo minha liberdade criativa se expressar. Meu objetivo é fazer uma reflexão sobre o protagonismo do negro na sociedade brasileira sem dar qualquer conotação pejorativa aos personagens retratados, mas sim mostrar como o eurocentrismo atual é chocante e absurdo, pois nós não somos representados de maneira digna, respeitosa e igualitária. Ao propor um mundo ‘invertido’, com negros em papéis de destaque na sociedade, me pergunto se faríamos os mesmos comentários preconceituosos ou se teríamos as mesmas posturas. Meu desejo é provocar uma reflexão e não resgatar uma ferramenta considerada racista e que ridiculariza o negro.
Em contraponto, militantes do movimento negro protestaram contra a exposição. "Ser preto não é ser pintado de preto. Pintar personalidades de preto não é provocador… é caricato, inútil, cafona e não diz nada para ninguém. Nem para o preto é muito menos para o branco", escreveu a arquiteta e militante do movimento negro Joice Berth em um post do Facebook.
Na mesma rede social, foi criada até mesmo uma página em protesto à mostra, chamada "Repúdio à exposição 'Pourquoi pas?' de Alexandra Loras", na qual há petições e textos em que se pede que a artista 'não haja como o opressor!'"
A inauguração da exposição está prevista para o dia 2 de dezembro, a Galeria Rabieh, em São Paulo.