Após ser bastante criticado nas redes sociais e sofrer acusações de racismo, o comediante Paulo Gustavo pediu desculpas em sua página do Facebook, no último sábado, por ter utilizado blackface (maquiagem usada por atores brancos para simular traço negros) na caracterização de uma personagem. O ator também mudou o visual de Ivonete, papel que foi o centro da polêmico.
As críticas e acusações surgiram no dia 12 de junho, quando o humorista publicou uma foto em suas redes sociais vestido como Ivonete, personagem que interpreta no programa 220 volts, do canal Multishow. Usuários alegaram que Paulo Gustavo estaria compactuando com o racismo ao pintar seu rosto de negro.
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Em um primeiro momento, o comediante se defendeu das críticas pela sua página no Facebook.
"Eu conheci muitas Ivonetes na minha vida e tenho orgulho dessas mulheres. Ao contrário de outras personagens que eu uso para ridicularizar o tipo que elas representam, a Ivonete existe pra ridicularizar quem a ridiculariza, porque eu quero rir de gente que não gosta das Ivonetes. Porque eu amo a Ivonete. Ela é negra, nasceu negra e eu tenho o mesmo respeito por ela que eu tenho com todas as pessoas", escreveu.
No último sábado, Paulo Gustavo voltou atrás e publicou um texto reflexivo em seu Facebook e anunciou a mudança na caracterização de Ivonete:
"Nesses últimos dias li, ouvi, pensei e entendi que há uma longa discussão sobre o uso de 'blackface' muito anterior e muito maior do que eu, minha carreira, minha personagem e o 220 volts, por isso decidi refazer a Ivonete sem que ela pareça uma caricatura risível da mulher negra (...) O blackface historicamente remete a experiências que são dolorosas para muitas pessoas e, mesmo não sendo a intenção, eu peço desculpas se ofendi ou magoei alguém. Eu posso pintar minha pele, posso fingir, representar, tentar dar voz a essa mulher, mas eu nunca saberei de verdade como é ser uma mulher negra. "
Leia o texto de Paulo Gustavo na íntegra:
"Nesses últimos dias li, ouvi, pensei e entendi que há uma longa discussão sobre o uso de 'blackface' muito anterior e muito maior do que eu, minha carreira, minha personagem e o 220 volts, por isso decidi refazer a Ivonete sem que ela pareça uma caricatura risível da mulher negra. Ela não é. Ivonete é esperta, crítica, consciente e questionadora. É uma brasileira que passa por todas as dificuldades absurdas que todos passamos como a falta transporte eficiente, sistema de saúde precário, violência, etc etc etc... Ela se revolta, reclama, exige, sofre, mas não perde o rebolado, mantém-se de cabeça erguida, forte, guerreira e sobretudo alegre. Mas o blackface historicamente remete a experiências que são dolorosas para muitas pessoas e, mesmo não sendo a intenção, eu peço desculpas se ofendi ou magoei alguém. Eu posso pintar minha pele, posso fingir, representar, tentar dar voz a essa mulher, mas eu nunca saberei de verdade como é ser uma mulher negra. Nos textos, a alegria da personagem não fazia dela uma alienada, mesmo assim eu compreendi que a negra animada é um estereótipo que os movimentos negros combatem com razão pois na vida real, muitas vezes, não é nada engraçado. Apesar de conhecer e adorar muitas Ivonetes, ser negro no Brasil é difícil sim. Como ser mulher também é difícil; como ser gay também é difícil. Tanto na minha arte quanto na minha vida pessoal tenho feito o que posso pra tentar transformar o mundo num lugar melhor. Casei com o Thales, assumi isso publicamente, mudei minha certidão. Entendo que temos um grande processo de conscientização sobre o racismo, o machismo e a homofobia no Brasil e ele vem passando por etapas dolorosas. Eu não quero de forma alguma ser agente dessa dor, corroborar com preconceitos e manter o status quo de uma sociedade que necessita melhorar. Todos nós precisamos conversar e pensar mais a respeito. Eu tenho feito isso. Eu e a Ivonete."