Apesar de levar o título Salta de Água, a gravura reproduzida abaixo, coloca em evidência o toco de uma árvore em meio a uma paisagem exuberante dos arredores do Rio de Janeiro. A cena concebida em 1824 pela viajante britânica Maria Graham (1785 – 1842), registro inicial da devastação da Mata Atlântica, é o ponto de partida da nova exposição da pinacoteca do Instituto de Artes da UFRGS, Salta D'Água: Dimensões Críticas da Paisagem, com obras que abordam a natureza por um viés ecológico e político.
A mostra deriva dos projetos de pesquisa dos curadores, o professor do Instituto de Artes da UFRGS Eduardo Veras (Artistas Viajantes: Itinerários entre a Tradição e a Contemporaneidade) e o estudante de História da Arte Diego Hasse (Maria Graham: Apreensão da Paisagem Brasileira e a Crítica Ambiental no séc. XIX).
– A exposição reúne trabalhos artísticos que evidenciam as preocupações dos artistas com as relações entre o homem e o ambiente natural – resume Veras.
A gravura de Maria é relacionada a trabalhos de outros 13 artistas, em diferentes suportes, como a aquarela Memorial de um Pé-de-Pera (2017), que Lilian Maus fez a partir de uma vista do Morro da Borússia (Osório, RS), desenhos de Claudia Hamerski e Emanuel Monteiro, fotografias de Maria Ivone dos Santos, Mariana Silva da Silva e Marcelo Chardosim, além de textos, vídeos e performance. As obras desses artistas, atuantes hoje, são aproximadas a desenhos que retratam uma Porto Alegre ainda rural, feitos entre 1920 e 1940 por antigos docentes do Instituto de Artes, os europeus Benito Castañeda, Luiz Maristany de Trias e Francis Pelichek.
Os curadores quiseram também misturar obras de veteranos e iniciantes:
– Teremos desde um artista local já com projeção internacional, como Hélio Fervenza, que já representou o Brasil na Bienal de Veneza, até alguém bastante jovem, como Lara Fuke, de apenas 21 anos, com um vídeo em que ela combina movimentos sutis do próprio corpo com pequenas alterações na natureza, em uma coreografia bastante singular – exemplifica Veras.
Um ponto alto da mostra promete ser a performance Sucos Específicos, de Jorge Menna Barreto, que acaba de ser apresentada na prestigiada Serpentine Gallery, em Londres. Na ação, prevista para 9 de novembro, o artista fará sucos combinando frutas e verduras orgânicas com PANCS (Plantas Alimentícias Não Convencionais) recolhidos nas ruas de Porto Alegre. Paulista radicado no Rio, onde leciona na UERJ, Barreto foi um dos destaques da última Bienal de São Paulo com Restauro (um restaurante com cardápio elaborado a partir de pesquisas em agroflorestas).
- Salta D'Água: dimensões críticas da paisagem
- Abertura terça-feira (24/10), às 19h.
- Curadoria: Eduardo Veras e Diego Hasse.
- Pinacoteca Barão de Santo Ângelo do IA/UFRGS (Rua Senhor dos Passos, 248, segundo andar).
- Visitação de segunda a sexta, das 10h às 18h, de amanhã até 24 de novembro. Entrada franca.
- Atividades paralelas (todas na Pinacoteca do IA/UFRGS):
- 9 de novembro, às 19h: ação Sucos Específicos, com Jorge Menna Barreto.
- 10 de novembro, às 14h: palestra com Jorge Menna Barreto.
- 17 de novembro, às 14h: palestra com Ana Flávia Baldisserotto.