Inaugurado no final dos anos 1920 como residência do Capitão Lulu (como era conhecido Luiz Alves de Castro, dono do célebre cabaré-cassino Club dos Caçadores), o palacete que abriga o Hotel Praça da Matriz, no centro da Capital, receberá atividades culturais a partir do final de março.
O Espaço Cultural HPM será aberto no próximo dia 27 com a exposição O Mundo das Cores de Britto Velho (a primeira mostra individual do artista plástico em cinco anos), que ficará em cartaz durante 30 dias, com visitação gratuita.
O solar localizado no Largo João Amorim de Albuquerque é parte da história de Porto Alegre no começo do século 20. Capitão Lulu (1884-1965) havia amealhado fortuna com o Club dos Caçadores (na Rua Andrade Neves), que teve seu apogeu na década de 1920. O cabaré chegou a ser elogiado por Carlos Machado, famoso produtor do teatro de revista do Rio de Janeiro, que o considerava “um dos melhores clubes noturnos que conheci em todo o mundo” (o afago consta na autobiografia de Machado, Memórias Sem Maquiagem, de 1978).
Contudo, pela origem humilde – consta que teria começado a vida como promotor de jogo do osso na Cidade Baixa, onde se criou –, Lulu não era bem aceito pela elite porto-alegrense. Além disso, era acusado de hipocrisia por ajudar financeiramente viúvas de clientes que se suicidavam, desesperados com a perda de posses na jogatina. Não à toa, o Club dos Caçadores tinha a alcunha de Palácio das Lágrimas.
Em vista disso, para demonstrar status à alta sociedade, Capitão Lulu ergueu um castelo suntuoso no epicentro político, jurídico e religioso do RS, construído pelo renomado engenheiro e arquiteto de origem alemã Alfred Haesler. Com quatro andares, subsolo, pátio interno e cúpula de cobre, o prédio conta com ao menos dois diferenciais para a época: garagem e sistema de aquecimento de água trazido da França (atualmente, o conjunto arquitetônico está sendo inventariado como de interesse histórico pelo município).
Lulu não teve tempo para aproveitar tamanho requinte, uma vez que se mudou no início dos anos 1930 para o Rio de Janeiro, onde foi sócio do Cassino da Urca. Com a proibição dos jogos de azar no Brasil, em 1946, ele se viu obrigado a se desfazer de boa parte de seu patrimônio – o palacete do Largo João Amorim de Albuquerque foi adquirido pelo comerciante português Antonio Fernandes Patrício, sogro da atual proprietária do Hotel Praça da Matriz, Ilita Patrício, em 1949.
Em meados da década passada, o prédio foi restaurado com reaproveitamento de várias peças originais, como portas, lustres e vitrais, além do mármore da escadaria e de uma central telefônica dos anos 1940.
A exposição de Britto Velho inclui 19 pinturas sobre tela em diferentes formatos, produzidas recentemente, que também poderão ser apreciadas mediante agendamento pelo WhatsApp (51) 98595-5690. Estão previstos ainda encontros semanais entre o artista e o público, sob a mediação de importantes nomes do cenário cultural gaúcho.