Os dias têm sido corridos no Museu do Trabalho, no centro de Porto Alegre, onde estão sendo dados os últimos retoques para a abertura da exposição Os Replicantes 1984/2024, marcada para o próximo dia 27. A mostra sobre os 40 anos de uma das bandas mais emblemáticas do punk rock nacional vai ocupar duas salas — na primeira, estarão expostas capas de discos, matérias de jornais e letras de músicas, além de folders, cartazes e fotografias; no segundo espaço, serão exibidos vídeos que não estão disponíveis no YouTube. A visitação será de terça a sábado, das 13h30 às 17h30, até 19 de maio.
— O visitante também vai encontrar material museográfico, como objetos e documentos referentes à trajetória da banda — antecipa a jornalista Paola Oliveira, responsável pela produção e curadoria da exposição.
Os Replicantes surgiram numa garagem da Rua Marquês do Pombal, no bairro Floresta, onde morava o músico e cineasta Carlos Gerbase. Para que pudessem ensaiar, foi preciso despejar o Chevette de Gerbase, que, dali por diante, passaria as noites ao relento (afinal, dava muito trabalho remontar os equipamentos de som a cada ensaio). Na época, entusiasmados com as bandas britânicas Sex Pistols e The Clash, os jovens decidiram seguir o lema punk “faça você mesmo”, que permitia a qualquer pessoa tocar um instrumento, ainda que não tivesse conhecimento musical, o que era o caso deles. Para se ter ideia, o mais capacitado nas lides musicais era o guitarrista Cláudio Heinz, que tinha feito na adolescência um curso de violão de apenas duas horas, sob os auspícios da rede de lojas Imcosul.
Em 16 de maio de 1984, a banda se apresentou no Bar Ocidente, sendo recebida com ovos e cusparadas vindos da plateia. Até hoje, há controvérsias sobre a autoria das injúrias. Uma versão é a de que punks que frequentavam a Avenida Osvaldo Aranha subiram as escadas do Ocidente para esculachar os estreantes. Outra é de que era represália do público às letras, que falavam mal de ícones da música brasileira, como Caetano Veloso e Chico Buarque. Nada disso impediu que Os Replicantes participassem de duas coletâneas — Rock Garagem, da gravadora Acit, e Rock Grande do Sul, da RCA Victor, abrindo caminho para o sucesso nacional. O Futuro é Vortex, de 1986, primeiro disco próprio, foi apontado pela revista Rolling Stone como um dos cem melhores do rock brasileiro.
Em quatro décadas, Os Replicantes produziram 13 álbuns, mais de cem canções autorais e dezenas de videoclipes, como os clássicos Nicotina e Surfista Calhorda. A formação atual conta com Julia Barth, Cleber Andrade, Heron Heinz e Claudio Heinz. Também fizeram parte da banda, além de Gerbase, Wander Wildner, Luciana Tomasi e Ricardo Cordeiro King Jim. Afora a exposição, haverá um show comemorativo no Bar Opinião, em 16 de maio, além de um documentário — Seja Punk Mas Não Seja Burro —, que se encontra em fase de captação de recursos através de financiamento coletivo.