Em meados dos anos 1940, três dos principais autores da literatura gaúcha viviam a poucas quadras de distância no bairro Petrópolis, na Capital: Erico Verissimo morava na Rua Felipe de Oliveira; Dyonélio Machado, na General Souza Doca; e Cyro Martins, na esquina da Ferreira Viana com a Borges do Canto. Essa concentração de literatos tão relevantes é o mote da Caminhada Literária — Redescobrindo o Patrimônio Literário do Bairro Petrópolis Através de Seus Escritores, que terá sua primeira edição de 2024 realizada neste sábado. O ponto de partida é a Praça Mafalda Verissimo, com início programado para às 14h30min.
Tudo começou com uma campanha liderada por Jonas Dornelles, doutorando em teoria da literatura pela PUCRS, para evitar que fosse posta abaixo a casa onde Dyonélio e a esposa Adalgiza moraram até 1966. No casarão construído em 1942, ele escreveu ao menos dois livros, Desolação (1944) e Passos Perdidos (1946), além de dar início a Deuses Econômicos (1966).
Dornelles — que tem o escritor, médico psiquiatra e militante comunista como tema de sua pesquisa acadêmica — reuniu a documentação necessária para comprovar junto à equipe do Patrimônio Histórico e Cultural da prefeitura que o imóvel (à época colocado à venda) tinha valor histórico. Como resultado, em novembro de 2022, a construção passou a integrar o patrimônio cultural de Porto Alegre, sendo vedada a sua demolição.
— A residência é muito importante na trajetória de Dyonélio, que morou ali após ser preso e exilado pela ditadura de Getúlio Vargas. É o período em que retornou à vida pública, assumindo o cargo de diretor do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Pouco depois, ele se elegeu deputado estadual — anota Dornelles.
Ao mobilizar a comunidade de Petrópolis para evitar a destruição do casarão de Dyonélio, Dornelles tomou conhecimento de que o bairro abriga outros pontos de referência da vida cultural e artística do Estado, o que o inspirou a idealizar o passeio literário. O romancista Josué Guimarães, por exemplo, morou na Rua Riveira; o artista plástico Danúbio Gonçalves, na Engenheiro Roberto Simonsen; e o escritor Manoelito de Ornellas, na Rua Maranguape. Há também a Casa da Estrela, de 1947, hoje sob a guarda da Associação dos Escultores do Estado do Rio Grande do Sul, que, por meio de edital, ganhou o direito de transformá-la em centro cultural e sede da entidade.
A primeira Caminhada Literária aconteceu em maio de 2023. Depois, foram realizadas outras duas, em agosto e novembro do ano passado, com média de público em torno de 50 pessoas. O formato adotado por Dornelles tem as residências de Erico e Dyonélio como pontos fixos de visitação, agregando à rota sempre outra referência a cada edição. Neste sábado, será a casa de Josué Guimarães. O evento é gratuito e, para participar, basta comparecer ao ponto de partida no horário previamente estabelecido.