Faz tempo que o Brique da Redenção ganhou um lugar cativo no coração dos porto-alegrenses. Em domingos ensolarados, a feira de artesanato chega a atrair até 60 mil pessoas, que circulam pelos 800 metros de extensão da Avenida José Bonifácio, no Bom Fim. Além de atração turística, é lugar ideal para conhecer novos amigos ou reencontrar velhos conhecidos, os quais havíamos perdido de vista.
– O Brique é a sala de estar de Porto Alegre. A gente chega aqui pela manhã para abri-la e receber as pessoas da melhor forma possível – diz João Batista da Rocha, presidente da Associação dos Artesãos do Brique e um dos fundadores da feira, dando uma pausa no atendimento ao público na banca 99, onde expõe bolsas, cintos e acessórios de couro.
Contar a história do Brique é uma maneira de celebrar o Dia do Artesão, comemorado hoje. Mas, antes da feira do Bom Fim, um dos primeiros pontos fixos da venda de artesanato na Capital foi a praça Dom Feliciano, próximo à Santa Casa, no início dos anos 1970. Depois, a galera ocupou a Rua da Ladeira, desde a esquina com a Andrade Neves até a Rua da Praia. Como não havia barracas, os artigos de couro e metal eram expostos em paninhos esticados sobre a pedra de calçamento. Atualmente, os remanescentes dos “hippies da Ladeira” – como ficaram conhecidos – estão entrincheirados no corredor norte da Praça da Alfândega. O Brique (que havia surgido em 1978 como Feira de Pulgas, com joias, móveis, livros, revistas e discos de vinil, nas duas quadras mais próximas à Avenida João Pessoa) ganhou a adesão dos artesãos em 24 de abril de 1982. Foi graças à iniciativa do casal Berenice Aurora de Medeiros e Paulo Alberto Filber (ela falecida em 2012, ele em 1992), que organizou a primeira edição com 60 expositores junto ao alambrado do Estádio Ramiro Souto, na Redenção. De vez em quando, a bola de futebol explodia na cerca, fazendo com que as bolsas penduradas se espalhassem pelo chão. Mas esse não foi o maior problema. Em seguida, a turma se viu obrigada a abandonar a área, já que a legislação proibia a realização de feiras dentro de parques.
O que fizeram os artesãos? Juntaram as tralhas e cruzaram a pista da José Bonifácio para fincar âncora no canteiro da avenida. O que era transtorno se transformou em vantagem comercial: a partir daí, a feira ganhou visibilidade e passou a atrair cada vez mais consumidores. Em 1990, o trânsito de veículos foi suspenso aos domingos por lei municipal e, em 2005, o “Complexo Brique da Redenção” foi declarado Patrimônio Cultural Imaterial do RS por lei estadual.
Hoje, o Brique congrega cerca de 180 artesãos, além de 40 artistas plásticos e 70 antiquários, contando ainda com 10 barracas de alimentação. Afora isso, é palco privilegiado para músicos de rua, artistas de teatro e dança, malabaristas, mímicos, capoeiristas e estátuas vivas, que se misturam a ativistas políticos, principalmente em tempos de eleição. É como se a via pública se transformasse em cenário de festa e cidadania.
– O artesão toca o público pela sensibilidade. Quanto mais tecnológica for a civilização, mais será preciso valorizar o trabalho manual – conclui João Batista.