Mais antiga escola de formação de educadores do Rio Grande do Sul (fundada em 1869), o Instituto de Educação Flores da Cunha foi reaberto na última segunda-feira(19) após ficar oito anos de portas fechadas para a restauração do edifício histórico. Vocês sabem quem projetou o prédio da Avenida Osvaldo Aranha, junto ao Parque da Redenção, que é tombado como patrimônio histórico desde 1997?
É obra do espanhol Fernando Corona, arquiteto autodidata (na educação formal, não ultrapassou a 4ª série primária), além de escultor e professor de arte. De sua prancheta saiu também o Edifício Guaspari, de inspiração modernista, em 1936, no centro da Capital. Não à toa, quando esteve na cidade para ser paraninfo da primeira turma de urbanistas formada no Instituto de Belas Artes, em 1948, o papa do modernismo brasileiro, Oscar Niemeyer, declarou: “A não ser os prédios de Fernando Corona, confesso que nada vi de arquitetura contemporânea em Porto Alegre”.
Corona projetou ainda o Hospital Modelo (atual Hospital São Francisco, da Santa Casa de Misericórdia), de 1925, e o Edifício Jaguaribe, na Avenida Salgado Filho, de 1951 (esse a quatro mãos com o filho Luís Fernando). Aliás, foi necessária uma autorização especial da prefeitura para que o Jaguaribe saísse do papel, já que o arranha-céu de 26 andares ultrapassava o limite de altura permitido na época. O conceito também era arrojado: tinha cinema, confeitaria, salas de conferência, biblioteca, bar e restaurante.
Mas não é só isso. Corona participou (com outros arquitetos) da idealização da Galeria Chaves, a primeira galeria de Porto Alegre, de 1930. Projetou o Instituto de Belas Artes, inaugurado em 1943 na Rua Senhor dos Passos (onde, por sinal, deu aulas de 1938 a 1965). E encaixou os azulejos nas cores azul-cobalto e amarelo-ocre da Fonte Talavera de La Reina, na Praça Montevidéu, obra do ceramista catalão Juan Ruiz de Luna, que chegou aqui totalmente desmontada, em 1935.
Já o Instituto de Educação foi uma encomenda que Corona recebeu, em 1934, com o dever de concluí-la no ano seguinte para abrigar o Pavilhão Cultural da Exposição do Centenário da Revolução Farroupilha (passaria a sediar o colégio a partir de 1937). Não só para ganhar tempo, mas também para fiscalizar o andamento da construção, ele instalou a sua mesa de trabalho dentro do canteiro de obras. O resultado reflete a admiração do espanhol pela arquitetura clássica, já que o modelo é o Templo de Ártemis (construído no século VI a.C. em Éfeso, na Grécia Antiga, cidade que hoje pertence à Turquia).
Parte da obra de Corona como artista visual está exposta em fachadas de edifícios. Exemplos? O pórtico do Farol Santander, antiga sede do Banco do Comércio, de 1926, e a estátua de Chopin, junto ao Auditório Araújo Vianna, de 1963. Tem ainda a imagem de Nossa Senhora do Líbano, na igreja maronita da Rua Jerônimo de Ornellas, no bairro Santana, que Corona modelou pendurado em um andaime, já aos 77 anos, em 1973. Fumante inveterado, o arquiteto que ajudou a moldar a paisagem moderna da Capital morreu em 22 de junho de 1979, aos 83 anos, de complicações de um enfisema pulmonar.