O Arquivo Público do Rio Grande do Sul (Apers) tem como um de seus pilares a popularização de documentos dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, de tabelionatos e do Registro Civil. Além disso, sua equipe de arquivistas, historiadores, socióloga, administrador e linguistas realiza pesquisas com base nos registros disponibilizados sobre assuntos da história gaúcha.
É o caso do trabalho do historiador da entidade Rodrigo de Azevedo Weimer, que produziu, de forma pioneira no Brasil, o catálogo Arquivo LGBTQIAPN+: Levantando Documentos para Outras Histórias, a fim de preservar a memória e fazer com que a comunidade se aproprie de seu passado.
— É importante dar mais visibilidade para esta comunidade que não é tradicionalmente citada em contextos culturais gaúchos e em documentos — diz Rodrigo.
Foram identificados 161 processos-crime instaurados envolvendo a comunidade LGBT+, em alguns deles, foram utilizados termos pejorativos ao se referir a essas pessoas ou casos, que se pode deduzir que ocorreram com esse grupo marginalizado.
O historiador analisou 18 mil processos durante seis anos de estudos. O período da documentação, entre 1942 e 1964, foi escolhido pela falta de pesquisas referentes a essa época, que antecede a ditadura militar.
— O movimento de reivindicação de direitos começa entre os anos 1960 e 1970, datas em que se tem mais documentos sobre a comunidade — relata Rodrigo.
Para Chico Cougo, professor do Departamento de Arquivologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a pesquisa é de uma riqueza muito grande, tendo sido feita com muita ética e cuidado, além de possuir um olhar para além do processo.
— O trabalho faz, também, nós (enquanto sociedade) nos questionarmos sobre o que vamos deixar de documentação para o futuro para que as pesquisas que serão feitas daqui a cem anos, por exemplo, não precisem mais mostrar essa comunidade apenas pelo ponto de vista da polícia ou da Justiça.
Rodrigo comenta que com o catálogo de documentos será possível identificar como as pessoas lidavam com a sua sexualidade, como a sociedade enxergava a comunidade LGBT+, além de espaços comuns entre esse grupo, tais como a Praça da Alfândega e a Rua Voluntários da Pátria, em Porto Alegre.
O catálogo Arquivo LGBTQIAPN+: Levantando Documentos para Outras Histórias será lançado nesta quinta-feira (29), às 14h, ao vivo no canal do Apers do YouTube. Além do autor da pesquisa, participarão da live o historiador e professor da UFRGS Benito Schmidt, a historiadora e pesquisadora independente Rita Colaço-Rodrigues, o pesquisador independente sobre memórias LGBTQIAPN+ Luiz Morando e o professor Chico Cougo. Após a apresentação, haverá um bate-papo, quando o público poderá interagir por meio da seção de comentários do YouTube.
O documento estará disponibilizado no site da instituição (www.apers.rs.gov.br) na aba “Acervos” e, depois, em “Judiciário”.