Voar, especialmente nas décadas de 1940 a 1960, era sinônimo de glamour e modernidade. Antes disso, era quase uma aventura. Hoje em dia pode ser motivo de desgastante stress. Isso tanto é verdade que não são poucas as pessoas que, nessa época, guardavam os seus bilhetes de passagens aéreas como recordação.
Agora, que tudo é virtual, não há registro para se guardar e talvez nem haja motivo para tal, já que apanhar um avião para qualquer lugar tornou-se uma coisa banal – isso quando não fica, como recordação maior da viagem, os dissabores vividos em aeroportos grandes, lotados e, muitas vezes, confusos.
A jornalista Laila Lontra (1935-2013), por exemplo, manteve entre seus guardados inúmeras passagens aéreas como lembrança de suas viagens. A mais antiga, para a sua cidade natal, Rio Grande, emitida pela S.A. Viação Aérea Gaúcha (Savag), tem a data de 29 de dezembro de 1947, quando ela tinha apenas 12 anos. Na contracapa dessa passagem está impresso: “Aviso aos senhores passageiros: Artigo 2º da Portaria nº 217, de abril de 1940, do senhor ministro da Viação e Obras Públicas – os aparelhos fotográficos e cinematográficos não podem ficar em poder dos passageiros durante a viagem – o infrator está sujeito às penalidades (...)”. Certamente restrições em função da Segunda Guerra Mundial.
Laila veio criança, com a família, para a Capital, mas manteve vínculos importantes com a principal cidade portuária do RS, como seus padrinhos, o casal Arthur e Stela Meireles Leite. Voltou para lá muitas vezes, para participar de festas e bailes.
Laila entrou no Jornalismo na virada dos anos de 1950 para 1960, pelo diário Última Hora. Ela foi a primeira repórter policial do RS. Na redação, conheceu um jornalista gaúcho (posteriormente advogado e político) que trabalhava no Rio de Janeiro e visitava o Sul, Ibsen Pinheiro (1935-2020). Casaram-se em 1965 e ficaram juntos por quase 50 anos, até a morte dela. O jornalista Márcio Pinheiro, filho do casal, herdou não apenas o talento profissional dos pais, como encontrou nos arquivos legados pela mãe um envelope com diversas passagens/souvenir devidamente preservadas – até com o papel carbono. No verso de um dos bilhetes da Varig (Porto Alegre-São Paulo-Rio-São Paulo-Porto Alegre), ela registrou num manuscrito: “A mais feliz viagem de minha vida, 10/8/62 a 14/9/62”. Laila fez muitas outras viagens depois dessa e se foram melhores nunca saberemos.