A simples visualização do rótulo de certos produtos, especialmente daqueles que desapareceram do mercado, tem o incrível poder de nos arremessar imediatamente ao passado. Pelo menos para mim, um dos mais emblemáticos desse fenômeno é aquele listradinho do Guaraná Brahma. É bater o olho e lá estou nos anos de 1950. Acontece também com outros, mas nem sempre a sensação é de prazer ou saudade. O homem com o peixe nas costas, da famigerada Emulsão de Scott, por exemplo, talvez seja parcialmente responsável pelo fato de eu estar tão "robusto" e "saudável", mesmo depois de sete décadas — mas não posso dizer que lembro com alegria o gosto do "óleo de fígado de bacalhau".
Com o guaraná, claro, é diferente. Tem o paladar dos antigos aniversários infantis, onde eu comparecia de calças curtas e gravata borboleta. Ou de algum dia em que minha família almoçava "fora", como se dizia, em eventuais incursões a restaurantes.
Assim como a rivalidade existente entre a Pepsi e a Coca-Cola, também havia, naquela época, os apaixonados pelo Guaraná Brahma em contraposição aos amantes do Guaraná Champagne da Antarctica. Ambos disputavam a preferência das crianças, dos jovens e de todos aqueles e aquelas que optavam por bebidas não alcoólicas.
O Guaraná Brahma foi lançado, em 1927, pela Companhia Cervejaria Brahma; sua fabricação se prolongou até o ano de 2001, quando foi "descontinuada". Em 1999, com a união das centenárias cervejarias Brahma e Antarctica, nasceu a Ambev. Com isso, a nova empresa decidiu optar por uma única das marcas para manter a produção de guaraná.
Quanto ao velho Guaraná Brahma, cujas propagandas apregoavam ser "preparado à base de genuíno guaraná de nossas selvas" e o qual era considerado por antigos consumidores como mais doce e saboroso, ficou apenas na saudade.