O texto abaixo foi enviado pelo nosso colaborador jornalista Marcello Campos.
“Se as limitações do espaço-tempo pudessem ser ignoradas para a formação de um ‘time dos sonhos’ do choro praticado em Porto Alegre, um dos prováveis resultados seria um regional formado por Plauto Cruz e Antonio ‘Piratini’ Amábile nas flautas, Lúcio Quadros e Clio Paulo nos cavaquinhos, Caco Velho, Azeitona e Valtinho nos pandeiros, mais Otávio Dutra, Darcy Alves e Jessé Silva nos violões. Todos eles, hoje, já tocando, há mais ou menos tempo, nos ‘mezaninos’ da existência, foram escalados para brilhar na memória afetiva da cidade.
Esta segunda-feira, 26 de agosto, marca justamente o centenário do nascimento de Jessé Silva (1919–1988). Nascido em Erebango, na região norte do Estado, ele foi um dos maiores nomes do violão popular e do choro no Rio Grande do Sul. Além de acompanhar talentos como Lupicínio Rodrigues (1914–1974), Pixinguinha (1897–1973) e Jacob do Bandolim (1918–1969), deixou dezenas de composições (como a célebre Meu Pensamento), distribuídas em dois LPs autorais, sem contar as participações em gravações coletivas e de outros artistas.
Jessé era sobrinho do não menos mitológico Peri Cunha – bandolinista dos Azes do Samba, com Noel Rosa, Francisco Alves, Mario Reis e Nonô – e, antes de se fixar em Porto Alegre (1962), morou em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Passo Fundo, acompanhando a família e atuando como radiotelegrafista da Força Aérea Brasileira (FAB) e de outros órgãos de aviação.
As notas do código morse, porém, foram trocadas pelas musicais após o fim da Segunda Guerra Mundial (1939–1945), mas não em definitivo. Nas memórias da filha Suzana continuam vivos os diversos momentos em que Jessé utilizou os seus conhecimentos do sistema na buzina do carro em engarrafamentos de trânsito. Virtuose das cordas, o instrumentista se notabilizou por aparições em casas noturnas e emissoras de rádio e TV, além da atividade como professor particular do instrumento.
Essa faceta chegou a render, na década de 1970, uma série de três álbuns sonoros intitulada Leve seu Professor de Violão para Casa, com um método prático e fartamente ilustrado para principiantes, conduzido pelas cordas e a voz do próprio mestre.
Essa trajetória, que em 1981 o levou a ser homenageado pela Câmara de Vereadores com o título de Cidadão Emérito de Porto Alegre, é detalhada no livro Jessé Silva: Época de Ouro, do saudoso jornalista Danilo Ucha. A publicação foi lançada poucas semanas após a morte do biografado, na madrugada de 15 de setembro de 1988. Ele deixou a esposa Bernardete, quatro filhos, Sadi (já falecido), Teka, Fernando e Suzana, além de um disco em processo de finalização.Testemunha das tantas idas e vindas das manifestações musicais ligadas à Velha Guarda ao longo das décadas, certa vez Jessé definiu a situação do seu gênero predileto assim: ‘O choro não morreu e nem vai morrer, mas está na UTI. De vez em quando, ele toma um fôlego (...)’.
E haja resistência! Nesta terça-feira (27), Jessé Silva será homenageado com um evento especial no Bar do Nito (Rua Lucas de Oliveira, 105, bairro Auxiliadora), a cargo do Regional do Clube do Choro de Porto Alegre, amigos, familiares e ex-colegas.”
Mais informações com a filha de Jessé, Suzana Sá, pelo telefone (51) 98124-7924, ou e-mail suzana@sspp.net.br
Em tempo: se você tem saudade dos Anos Dourados, dos Bailes da Reitoria, ou simplesmente adora dançar em um evento aconchegante com jantar caprichado e música romântica, reserve a noite de 14 de setembro. Às 20h, no Caixeiros Viajantes, haverá mais uma edição do baile anual estrelado pelo cantor Edgar Pozzer. Informações pelos telefones: (51) 99914-5269, (entre 15h e 18h), (51) 99966-2704 ou (51) 99984-4150.