Ricardo Chaves
Em 24 de junho de 1819, às margens do Rio Uruguai, no Passo de São Isidro, era preso, por tropas portuguesas, Andrés Guacurarí Artigas. Terminava, assim, a saga de cinco anos deste índio guarani, nascido em São Borja nos últimos decênios do século 18, em quem os povos indígenas do vasto território das Missões jesuíticas e adjacências, que compreendia áreas do Rio Grande, do Uruguai, e de províncias argentinas, depositavam as últimas esperanças de união e liberdade sob a bandeira do federalismo. Modelo de inconformismo e rebeldia surgido das ruínas, da decadência e da dispersão dos povos missioneiros, Andresito Artigas, como era chamado, testemunhara e fora vítima, desde tenra idade, dessa tragédia regional que convulsionava o sul do continente. Mas, afinal, quem era esse Andresito que em cuja figura mesclavam-se lenda, mito e realidade? Sabe-se que, recém-saído da adolescência, já se entregara à causa que seria a sua glória e seu fim: a luta em prol de uma sonhada liga ou federação dos Povos Livres, que emancipasse todos os seus irmãos privados de seu patrimônio natural, de sua cultura e tratados como escravos. Nessa verdadeira obsessão, juntou-se ao prócer oriental, general José Gervásio Artigas, o qual o reconheceu pelos invulgares dotes de capacidade militar, dedicação, fidelidade e discernimento político. Com tais credenciais, logo mereceu de dom José o tratamento de filho, adotando desde então o sobrenome com o qual passaria para a história: Andresito Artigas.
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