Nascido em São Gabriel, Isaias Evangelho (1884–1948), expressou, por meio da fotografia, seu amor pela cidade natal. De temperamento calmo, gentil e afável, tornou-se o mais representativo profissional fotográfico gabrielense do início do século 20. Apaixonado pela arte, imprimiu em seus trabalhos todo o encanto que sentia, usando a criatividade e a aguçada sensibilidade de um verdadeiro artista. Retratista, desenhava com a luz, tornando único cada trabalho.
Desde muito jovem, quando ainda trabalhava na casa comercial Waltzer & Cia (da qual seu pai era sócio), revelava tendências artísticas, inclinando-se para o desenho. Mais tarde, encontrou o retratista italiano Luiz Mogetti, que residiu na cidade por algum tempo e foi quem o incentivou a aprender e prosseguir. Isaias se desenvolveu no ofício de fotógrafo, aplicando seu talento em trabalhos que combinavam fotografia, pintura e desenho. Dois importantes trabalhos dele, Madalena e Paciente Modelo, participaram de uma exposição de arte cristã, no Rio de Janeiro, merecendo elogiosas referências publicadas na imprensa.
Uma fotografia de estúdio poderia demorar horas, devido aos cuidados dedicados à pose, à iluminação, à expressão e aos ajustes precisos do equipamento. Recebeu convites para trabalhar em Pelotas, Porto Alegre e Rio de Janeiro, mas a paixão por São Gabriel nunca deixou que os aceitasse. Como se afastar da terra querida, dos amigos, daquilo que nutria seu espírito? Como deixar para trás as noites de conversas com os familiares, reunidos no pátio da casa da irmã Anna, ao som da música tocada pelos irmãos, especialmente José, por quem nutria um amor quase paternal? Como abandonar amigos, como João Pedro Nunes, que passavam, ao final da tarde, para saudá-lo?
Aos 29 anos, casou-se com Ida Viedo, com quem teve duas filhas: Gertrudes e Cassiana.Viúvo, casou-se com Adélia Augusta Vieira, com quem teve um casal de filhos. Ao menino, deu o sugestivo nome de Daguerre. A menina ele chamou de Edméa. Isaias deixou milhares de fotografias, montagens, painéis e alguns desenhos. Um dia, no atelier, examinando uma obra que acabara de finalizar, comentou: “A vida do fotógrafo é como todas as vidas, e é como a própria vida, cheia de contrastes...”
Parte do legado artístico de Isaias Evangelho foi reunido graças a várias contribuições de familiares, de amigos e de pessoas comprometidas no resgate e na preservação deste patrimônio iconográfico, verdadeira viagem no tempo. Em um álbum sobre São Gabriel, o artista escreveu: “Dedicamo-lo aos filhos e amigos desta terra, porque ele nada mais quis que fixar os aspectos de hoje, para a recordação e a suave saudade de amanhã”.
Colaboração do gabrielense Renato Rosa, tendo como fonte, um folder publicado sobre o artista.