Mestre Cartola (Angenor de Oliveira, 1908-1980) fez uma viagem ao sul do Brasil no Projeto Pixinguinha. Cartola dividia o espetáculo com João Nogueira, acompanhados pelo Grupo Bandola. Em Porto Alegre, apresentaram-se de 10 a 14 de outubro de 1977.
A viagem pelo Sul lhe trouxe uma tristeza grande em Curitiba, e uma alegria em Porto Alegre. Na capital paranaense, em 6 de outubro, uma quinta-feira, João Nogueira recebeu um telefonema do Rio, informando que o velho Sebastião de Oliveira, o pai de Cartola, havia morrido. A notícia já era mais ou menos esperada. Cartola tinha obrigado o velho a mudar-se de Bento Ribeiro para sua casa, em Mangueira, porque ele andava mal de saúde. Havia também deixado com a esposa, dona Zica, dinheiro para qualquer eventualidade. João Nogueira conta:
“Cartola foi almoçar fora do hotel e voltou para a sesta. Deixei-o acordar e fui falar com ele. Recebi uma notícia chata do Rio. Teu pai... você sabe... estava mal... pois é... ele morreu. Durante alguns minutos, ele permaneceu calado e disse, depois.”
“Mas eu vou fazer o show hoje.”
Na manhã do dia seguinte, pegou um avião em Curitiba, foi ao cemitério de Ricardo de Albuquerque no Rio de Janeiro, assistiu ao enterro e voltou no mesmo dia para a capital paranaense, onde fez o show.
A perda de um pai não pode ser consolada. Mas a manifestação de carinho que o povo de Porto Alegre prestou a Cartola com certeza ajudou a minorar seu sofrimento. Foi na terça-feira seguinte, 11 de outubro, dia do seu aniversário.
Na hora do show, lá estava ele no Salão da Reitoria da UFRGS. Nunca chegava atrasado. Aí, ele mesmo contou: “Eu não esperava por aquilo. Subi no palco, plateia muito boa, casa cheia. Cantei diversas músicas. Quando eu cantei As Rosas Não Falam e comecei a cantar ‘que bobagem as rosas não falam’, jogaram tanta rosa no palco, em cima de mim... tanta rosa!... Eu parei. Comecei a chorar de emoção. Mas eu não estava sabendo daquilo. Não esperava por aquilo.”
Colaborou Nilo da Silva Moraes
Fonte: livro Cartola – Os Tempos Idos, de Marília Barboza da Silva e Arthur de Oliveira Filho.
