Por Pedro Haase Filho, interino
A polêmica está aí. Corre pela cidade uma proposta para que, aproveitando a necessidade de reparos do monumento, a estátua do Laçador, símbolo inarredável da Capital, seja mudada de lugar novamente. O Almanaque Gaúcho, por sua essência, não poderia ficar de fora do novo debate que se instaura. Nomes respeitáveis, como o de Carlos Paixão Côrtes, filho do folclorista Paixão Côrtes − que posou como modelo para o escultor Antônio Caringi confeccionar a obra −, e da filha do artista, Antonia, já se manifestaram nas páginas de Zero Hora favoráveis à saída do atual sítio, localizado na Avenida dos Estados, em frente ao antigo terminal do Aeroporto Internacional Salgado Filho, numa elevação que tem o nome de Coxilha do Laçador.
A pergunta que fica no ar: por que mudar mais uma vez o símbolo maior de Porto Alegre? Desde sempre, ou seja, desde a criação e instalação, em 1958, na antiga Praça do Bombeador, a estátua foi colocada em um ponto geográfico específico, a principal chegada dos visitantes à Capital, posicionando-se como uma sentinela a dar boas-vindas a todos que para cá se dirigem, uma prova em bronze da decantada hospitalidade gaúcha. Na praça, ficou por quase meio século, na confluência da BR-116 e das avenidas Farrapos e Ceará. Infelizmente, em nome do progresso, decidiu-se construir bem ali um viaduto e o Laçador precisou recolher seu laço e passar a viver 600 metros adiante, a partir de 2007.
A então inevitável mudança, pelo menos, manteve a ideia primordial da localização, à entrada da cidade. Quem deseja que o Laçador vire quase um itinerante, mudando mais uma vez de lugar, usa argumentos como o de que o atual sítio “não pegou”, que não virou ponto de convivência. Outros falam na perda de visibilidade.
Na verdade, como contrapõe o titular desta coluna, Ricardo Chaves, “qualquer decisão que não fosse alargar a BR-116 naquela confluência, criando um canteiro/rótula/retorno (a exemplo do Arco do Triunfo, em Paris, e do Obelisco de Buenos Aires, guardadas as proporções), com jardim e acesso, sequer deveria ter sido cogitada”, defendendo que a estátua nunca deveria ter saído de sua localização original.
Esse interino do Almanaque Gaúcho também se alinha contrário aos argumentos que tentam justificar outra eventual transferência do Laçador das cercanias de seu habitat. Não fosse suficiente a tradição simbólica do local, apelo para uma tradição pessoal: toda vez que vou ao aeroporto, seja para buscar alguém que nos visite ou para levar quem parte, nunca tive dificuldade em visualizar e apontar o monumento, explicando ao conviva o significado e o porquê da localização.
Pois que os leitores do Almanaque Gaúcho também manifestem sua opinião sobre nosso Laçador.