Nosso leitor Emiliano Limberger tem uma versão para os agora tão comuns encontros de famílias, cada vez mais um hábito no comportamento da comunidade gaúcha. Hoje, Dia do Colono, diz ele:
"Até o ano de 1974, os hoje tradicionais encontros de famílias aconteciam esporádica e restritamente. De repente, instalou-se este saudável costume. Como? Transcorrendo o sesquicentenário da colonização alemã, o vetusto Correio do Povo (antes de ser tabloide), no dia 25 de julho, Dia do Colono, estampou surpreendentemente a inédita matéria da programada confraternização da parentela de Vicente C. Limberger, pelo transcurso do 40º ano de seu falecimento. Visava-se aproximar parentes próximos, que já nem se conheciam como tal, além, é claro, de homenagear o patriarca. Iniciativa de quem? Do faro jornalístico de Antônio Carlos Ribeiro, chefe de redação do róseo diário. Achou ele que este tipo de encontro familiar representaria algo significativo, simbolizando certa transcendência, constituindo não apenas uma simples reunião parental, mas estando tal incubado na tradição germânica. Eis que afinaria, portanto, com a comemoração deste sesquicentenário. Ao regressar à tardinha da labuta diária, havia o aviso de telefonema dele... Fiquei logo a imaginar ter havido afinal nova liberação de mais um artigo pelo diretor de singelo trabalho meu pró-Estatuto do Trabalhador Rural, a futura Lei Ferrari... Por isto, lhe liguei meio logo. Surpresa total: 'Preciso que reserves exclusividade de vosso encontro familiar!'. Procurei, bastante desconfiado, identificar se não seria este um estranho trote e passei a informá-lo de que se tratava de um simples encontro de parentes mais próximos, já que muitos deles, estando apenas na terceira geração, seguidamente nem mais identificavam seus aparentados... Mas ele insistiu na reserva da matéria... Deu três dias de prazo. Consultando os meus mais próximos, também eles captaram em suas antenas visível desconfiança, pelo que fiquei de não voltar ao assunto...No entanto, o jornalista tornou à carga, já no quarto ou quinto dia! Insistiu na exclusividade. Face a esta quase teima, embora continuássemos bastante desconfiados ainda, ampliamos os convites (até então restritos às circunvizinhanças rio-pardense e santa-cruzense), sondando se aceitariam participar outros tantos (inclusive desconhecidos) dos municípios de Sobradinho, Arroio do Tigre, Saldanha Marinho e mesmo do oeste do Paraná e, especialmente, de Rincão del Rei/ Rio Pardo. A receptividade, aliás, foi surpreendente. Conheceram-se, assim, parentes que, como se fossem estranhos, já haviam jogado futebol juntos, participado de outros eventos e até feito algum negócio... No dia 10 de julho, acorreram ao evento cerca de 500 pessoas da imensa Limbergada, surpreendendo-se todos com a estranha presença de jornalistas da Capital. Estes vasculharam baús e gavetas, houve entrevistas, fotos de personagens e reprodução de documentos (certidões, passaportes), principalmente dos mais idosos. Indagações de variado gênero. Foi celebrada uma missa (aliás, oficiada pelo padre João Limberger Senhem SJ, provincial dos jesuítas, que divulgara a festa de confraternização na revista Skt Paulusblatt, publicada desde 1914 em alemão). Houve almoço, bons papos e a camaradagem foi geral! Após, um novo sobressalto, pois, durante os dias subsequentes, nada apareceu a respeito no diário. Finalmente, no domingo, 25 de julho, Dia do Colono, apareceu, estampada, a esperada reportagem nas páginas centrais! Parece ter correspondido a tal exclusividade... Daí em diante, começaram a repetir-se os anúncios de tais convescotes. Felizmente, a Zero Hora entendeu adequadamente esta novidade cultural na qual nossa gente figurou, inesperadamente, como pioneira, cabendo, no entanto, o mérito àquele conspícuo jornalista, a cujo faro se deveu esta iniciativa."
Colaborou Emiliano Limberger