Embora com episódios menos conhecidos, a Revolução Federalista (1893-1895) também atingiu o litoral norte gaúcho. A guerra civil que opôs os republicanos de Júlio de Castilhos (1860-1903), chamados de pica-paus, e os federalistas de Gaspar Silveira Martins (1835-1901), chamados de maragatos, deixou vítimas na região com os mesmos requintes de crueldade ocorridos no restante do Estado. Assassinatos de parte a parte ocorreram antes mesmo da deflagração da guerra civil.
Em Conceição do Arroio, hoje Osório, o padre Manuel Paz Fernandes foi morto em junho de 1892. O local onde o religioso espanhol tombou após uma refrega com republicanos é hoje conhecido como Várzea do Padre e fica próximo à Estrada do Mar. Logo no começo da guerra civil, outro líder federalista foi assassinado: o major Moura de Azevedo foi degolado às margens da Lagoa dos Barros enquanto era levado preso a Porto Alegre, em março de 1893.
Combates esporádicos também ocorreram, mas sem maior importância estratégica. Os pica-paus não tiveram dificuldades em repelir os pontuais ataques maragatos, a maioria vindos da região serrana. Os confrontos não passavam de escaramuças.
O evento mais marcante da revolução para a região foi mesmo a tomada de Conceição do Arroio pelos maragatos, já na fase final do conflito, em 12 de abril de 1895 (exatos 123 anos atrás) – data que também marca a instalação da vila, em 1858. O número de atacantes era superior a 400 homens e tinha como líderes Vicente José Gomes, Leôncio Leão, José Rodrigues, José Magalhães, José Cristino e o folclórico Baiano Candinho.
Com o 18º Regimento de Cavalaria da cidade lutando na Fronteira, apenas uma pequena força policial, comandada pelo capitão Estevão de Oliveira Brandão, defendia Conceição do Arroio. Brandão, que também era prefeito local, foi cercado na intendência e ali permaneceu, sem se entregar, por três noites. Enquanto negociavam a rendição dos republicanos, os federalistas saquearam as casas comerciais: roupas, botas, utensílios e duas carretas de charque, farinha e rapadura foram capturados dos comerciantes.
A praça central transformou-se em acampamento maragato.Depois de quatro dias de ocupação, em 16 de abril, com regimentos republicanos de Porto Alegre, Viamão, Santo Antônio e Torres se aproximando da cidade, a força ocupante se retirou. Na fuga, a intendência foi incendiada e o gado roubado – só Antônio Madalena perdeu mais de cem bois. Oliveira Brandão escapou, mas, com o fim da guerra civil, foi destituído do cargo por Júlio de Castilhos. Um dos líderes atacantes, Baiano Candinho, foi degolado três anos depois de encerrada a revolução, em 1898.
O livro Quatro Dias em Abril, do autor do artigo, narra os episódios da revolução no Litoral.
Colaboração de Rodrigo Trespach