Falecido no último dia 3 de fevereiro, o professor e advogado Fernando Affonso Gay da Fonseca destacou-se também na vida pública. Foi senador, deputado federal e secretário de Estado. Exerceu funções de diplomacia fora do país, residindo nos Estados Unidos e na Europa. Esteve no Conselho Federal de Educação e governou o Rio Grande do Sul por um curto tempo. Herdou do pai o gosto pela zona sul de Porto Alegre. Aos 17 anos, passou o seu primeiro veraneio na praia de Ipanema, quando a região ainda era considerada apenas um balneário. Desde então, ele e toda a família nunca perderam os laços com o bairro e com o Guaíba. Apaixonado, como ele mesmo dizia, por Ipanema, Fernando, entre uma viagem e outra ao Exterior, ou residindo na Capital Federal, assumindo atividades no âmbito público, sempre voltava para Porto Alegre e para Ipanema, local onde estavam suas raízes e onde morou até sua morte. Da confortável varanda de sua residência, podia ver e admirar o rio. E era lá que aconteciam as conversas entre Fernando e personalidades do Estado e do Brasil.
Muito bem relacionado e respeitado por seus pares, recebia em sua casa pessoas influentes, não só do meio empresarial, mas também do político. O propósito de tais encontros era, normalmente, o de aconselhamento em períodos de crise. Entre essas personalidades, estava José Loureiro da Silva, prefeito de Porto Alegre em dois momentos (1937 a 1943 e 1960 a 1964) e amigo particular de Fernando.
"Loureiro tinha encantos por Ipanema. Ele veraneou aqui por dois ou três anos. Ele adorava sentar aqui e conversar. Vinha me ver todos os dias quando eu estava veraneando. E sentávamos no avarandado do chalé", relembrou. A confiança e a amizade de Loureiro por Fernando ajudou-o em muitos momentos, principalmente diante das crises decorrentes de seu segundo mandato.
Relatou Fernando: "Quando ele estava muito nervoso, o secretário ligava para mim e pedia: ‘Doutor Fernando, pega o homem aqui e leva para Ipanema’. E eu dizia: ‘Vamos, Loureiro, vamos embora, me leva de carro que eu preciso ir para casa’. Vínhamos conversando e, à medida que descíamos a Pedra Redonda e o Loureiro enxergava o Guaíba, ele então se acalmava. Ele era uma figura fora de série. Foi um grande urbanista, sem nunca ter sido engenheiro. Tinha vocação. Ele gostava muito da cidade de Porto Alegre. Foi uma das grandes personalidades que eu conheci".
Fernando Gay da Fonseca foi também professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul por mais de 40 anos, lecionando sociologia e filosofia e, posteriormente, na faculdade de Direito da mesma instituição. Segundo ele, sempre gostou de dar aulas, pois acreditava que essa atividade abria caminhos mostrando novas paisagens.
"Eu estudei no Colégio Anchieta. Fui educado, formado pelos padres jesuítas na época, pelos quais eu tenho uma profunda admiração e uma profunda gratidão. Eu sou grato por todos que me ajudaram. Eu acho que o mundo esqueceu o sentido e a profundidade da palavra gratidão. E eu faço questão de não esquecer. Todos que me deram alguma coisa eu guardo com muito carinho. E não poderia ser diferente com os meus professores".
Colaboração de Janete da Rocha Machado, historiadora, doutoranda e mestre em História pela PUCRS.