Já mudou mais de cara do que de nome em seus 245 anos. Assim é a nossa Rua da Praia, a mais antiga de Porto Alegre, do tempo em que reunia apenas casebres cobertos de palha. Começou dividida em duas partes e com dois nomes: Rua da Praia, do Guaíba até a altura da atual General Câmara, e Rua da Graça, no trecho restante. Em 1865, a Câmara Municipal, para comemorar o aniversário da Independência (7 de setembro), decidiu mudar para Rua dos Andradas.
Na verdade, a rua, que é uma das principais referências da capital gaúcha, vem convivendo, ao longo de décadas, com dois nomes, um oficial, com CEP dos Correios, e outro popular, muito embora não tenha qualquer praia em seu percurso. A propósito disso, o viajante Annibal Amorim (1876-1936), que por aqui esteve no início do século passado, escreveu: "Em Porto Alegre, cada rua tem dois nomes: um popular e outro municipal. É uma confusão diabólica para o recém-vindo. A dos Andradas é a mais importante. É mesmo a via pública da moda".
Há muito tempo que deixou de ser a rua da moda. Depois de contar com as melhores lojas da cidade, reunir os principais cinemas, livrarias, bancos, confeitarias, cafés e restaurantes, a Rua da Praia aos poucos foi perdendo o seu charme, a ponto de estar hoje irreconhecível. As mutações foram em todos os aspectos, a começar pelo calçamento, já trocado diversas vezes, sofrendo constantes remendos.
Um dos últimos registros da belle époque da Rua da Praia foi feito pelo jornalista Flávio Carneiro, há 60 anos, na reportagem publicada pela Revista do Globo, em 1957.
Com o título "Uma rua chamada da Praia", traz este tópico sobre a presença feminina: "As mulheres, ah, as mulheres! Elas são a vida da nossa famosa rua. Desfilam nos seus melhores trajes, durante horas, assistidas por batalhões de homens que se postam pelas calçadas e no meio da rua, com olhos curiosos e exigentes".
A Rua da Praia está presente na literatura gaúcha. Praticamente todos os poetas e cronistas já se ocuparam dela; Dyonélio Machado e Erico Verissimo a frequentaram com seus personagens; Renato Maciel de Sá Jr. falou de seu anedotário; o compositor Alberto do Canto homenageou-a com uma música; Nilo Ruschel e, mais recentemente, Rafael Guimaraens (Libretos) dedicaram-lhe livros.
Enfim, a nossa Rua da Praia, apesar de tudo, continua com vida própria e com sentimentos.