Movimentos de divulgação sobre as máscaras PFF2 (da sigla Peça Semifacial Filtrante), também conhecidas como N95, vêm ganhando força nas redes sociais. Divulgadores científicos abordam a importância do uso do modelo em situações de risco de exposição ao vírus, e não somente por profissionais de saúde. Agora têm surgido páginas que se dedicam a tirar dúvidas, explicar como reconhecer uma máscara verdadeira e até indicar onde comprá-la sem cair nos preços abusivos que já estão sendo praticados na internet.
Desde dezembro, a antropóloga e doutoranda em Saúde Coletiva na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) Beatriz Klimeck, 24 anos, é uma das administradoras do perfil Qual Máscara? no Twitter e no Instagram, que contabilizavam 23,4 mil e 91,8 mil seguidores, respectivamente, na última semana.
— Na época das eleições, comecei a explicar por que tinha parado de usar máscara de tecido e começado a usar a PFF2. Começou no meu perfil pessoal, mas resolvi separar e fazer um perfil. O foco é no Instagram, onde a gente consegue passar as imagens, deixar um link para baixar para que as pessoas possam compartilhar no grupo do WhatsApp — conta ela.
A atuação como pesquisadora ajuda a separar informações científicas das fake news e a fazer uma tradução dos conteúdos para o público leigo:
— Também faço mestrado em Divulgação Científica. Assim, a gente aprende o que é informação de qualidade. Temos o presidente da República (Jair Bolsonaro) falando que máscara faz mal, vamos atrás de cientistas, traduzimos manuais em inglês. Nas duas últimas semanas, ganhamos mais de 50 mil seguidores no Instagram.
Ela e o companheiro, o mestrando em Comunicação Ralph Rocha, chegam a se dedicar seis horas por dia respondendo a perguntas das pessoas que estão em busca do Equipamento de Proteção Individual (EPI).
Pouco antes do Carnaval, o empresário Bruno Carvalho, 30 anos, começou a ver posts no Twitter sobre máscaras PFF2. Conversou com a usuária e assim começou o PFF para Todos, um site que explica como usar o EPI e mostra pontos de venda online e em lojas físicas, separados por Estado. No Twitter, a página já tem mais de 9 mil seguidores. A iniciativa também tem um perfil que divulga máscaras em promoção, marcas disponíveis no mercado brasileiro e orientações para usar o produto. O Estoque PFF tem 25,1 mil seguidores.
— Tivemos a ideia de colocar as informações em um site na terça de Carnaval. A gente viu que as pessoas estavam carecendo de informações e começou a explicar como identificar. O que a gente gostaria é que os governantes estivessem comprando e distribuindo para a população — afirma Carvalho.
Ele não atua na área de saúde nem é do ramo de EPIs:
— Somos do campo do direito. Hoje, com todos os problemas que estamos tendo com vacinas, o que temos de mais seguro são as máscaras. Vemos muitos divulgadores científicos. A gente se vê como ativista da proteção respiratória.
Segundo o idealizador do site, a varredura em lojas de material de construção e de EPIs, onde o modelo costuma ser vendido, já mostrou a unidade até por R$ 1,70. Uma busca na internet também pode levar a locais que vendem por até R$ 90 a unidade.
O problema é quando o produto não é certificado ou não é uma PFF2 verdadeira.
— Não pode ter costura com linha, tem de ser selada, não pode dizer que é lavável, porque não pode ser lavada. O elástico prende atrás da cabeça, não na orelha. A pessoa tem de encontrar o selo do Inmetro, tem de ter o CA (Certificado de Aprovação), que pode ser consultado online. E não precisa estar escrito N95, o termo correto é PFF2 — explica Beatriz.
Orientação é não fazer estoque
Desde janeiro, diante do cenário de circulação de novas variantes do coronavírus, países europeus, como a Alemanha, passaram a exigir o uso de máscaras profissionais pela população em locais públicos e com grande circulação de pessoas. Segundo especialistas, a PFF2 é mais eficaz para evitar a infecção por aerossóis.
Pós-doutorando na Faculdade de Medicina da Universidade de Vermont (EUA), o físico e membro do Observatório Covid-19 Vitor Mori diz que a máscara PFF2 deve ser usada por pessoas que têm de trabalhar em locais fechados ou que enfrentam o transporte público lotado diariamente, mas que não é necessário nem correto fazer grandes estoques do modelo em casa:
— Tem de tomar cuidado para que não falte para os profissionais de saúde. A máscara PFF2 é a última linha de defesa para quem realmente não pode evitar de ir para locais fechados, para quem tem de pegar o transporte público todos os dias, como atendente da farmácia e caixa do supermercado, que é um trabalhador essencial.
Mori explica que as pessoas podem usar a máscara de tecido para exercícios ao ar livre e com distanciamento social ou para passear com o cachorro.
— Mas, neste momento crítico da pandemia, se a pessoa puder ficar em casa, o ideal é ficar o máximo que puder — alerta.
Fora da situação da pandemia, essas máscaras seriam descartáveis. No entanto, segundo Mori, elas podem ser reutilizadas enquanto estiverem sem danos:
— Se a manta filtrante estiver em bom estado, a máscara sem nenhum rasgo e com o elástico em boas condições, ela pode ser usada novamente.
A recomendação é deixar a máscara em local arejado por, no mínimo, três dias após o uso. Essa máscara não pode ser lavada nem higienizada com álcool. O uso correto é importante para que a máscara realmente proteja a pessoa:
— Depois de ajustar os tirantes elásticos e o clipe nasal, é preciso fazer um teste de verificação de vedação. A pessoa deve cobrir a maior área possível da máscara com as mãos, inspirar e expirar. Não pode ter passagem de ar.
Para quem usa barba, a vedação não é garantida. Logo, é necessário remover os pelos faciais.
Em defesa das máscaras de tecido
Infectologista, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Raquel Stucchi explica que a máscara PFF2 pode ser usada em situações como voos de avião — algumas empresas aéreas não permitem embarque com máscaras de tecido ou com válvulas —, mas diz que seu uso não é necessário para a população em geral.
— Mesmo com as novas variantes, o vírus não mudou de tamanho e a transmissão principal é por gotículas. As máscaras de tecido, no dia a dia, conseguem barrar transmissão do vírus. A máscara N95 é recomendada para quando tem aerossol, como no atendimento de um paciente que está no respirador, na UTI, e quando a gente vai colher o exame do swab nasal explica.
Ela destaca que a população deve reconhecer a importância da proteção com máscaras e continuar fazendo o uso mesmo com a imunização.
— A gente deve sempre usar máscaras. As de algodão, com dupla camada, são suficientes. E mesmo as pessoas vacinadas devem usar máscaras — ressalta Raquel.