Mesmo com a chegada da vacina, a máscara continua sendo um item fundamental para evitar a disseminação do coronavírus. No entanto, o uso constante desse equipamento de proteção individual (EPI) no verão pode causar desconforto e ferimentos na pele, o que gera problemas para aquelas pessoas que precisam utilizá-lo durante muito tempo – sobretudo para quem trabalha na praia.
A dermatologista Clarissa Prati, integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Dermatologia do Rio Grande do Sul (SBD-RS), explica que a máscara ocasiona um bloqueio que potencializa o calor. Segundo ela, isso resulta em uma obstrução de poros e glândulas que pode evoluir para acne, dermatite e outros problemas de pele.
Além de obstruir os poros, a barreira gera uma alteração dos micro-organismos que residem naturalmente na pele, o que, por sua vez, propicia o surgimento de lesões inflamatórias.
— Tudo isso potencializa também a possibilidade de desenvolver lesões de doenças que a pessoa tenha tendência, como enfisema, outras dermatites, psoríase — comenta a médica.
Ou seja, o uso da máscara e a umidade que fica retida na região por causa do calor pode piorar a situação daquelas pessoas que já tenham propensão a ter algum tipo de dermatite ou acne, ressalta Liliam Dalla Corte, dermatologista do Hospital Independência. Em relação às assaduras, ela esclarece que se trata de um termo genérico, que pode se referir ao agravamento da dermatite seborreica ou perioral, por exemplo.
— Essa "assadura" se torna um problema porque, como o trabalhador vai precisar insistentemente usar a máscara, ele vai ter uma dificuldade maior de melhorar a situação toda — complementa Clarissa.
Como evitar complicações na pele
De acordo com Liliam, é imprescindível que as pessoas que trabalham na praia sempre façam a higiene das mãos antes de tocar no rosto e na máscara. Considerando que o calor é mais intenso nesses locais, também é preciso trocar o equipamento de proteção com mais frequência: a cada duas horas ou sempre que estiver úmido.
— Não se deve ficar colocando a mão por baixo da máscara para remover o suor ou algo assim. É muito importante tentar manter a higiene nessa região — salienta a dermatologista.
Além disso, antes e depois do período de exposição com a máscara, é preciso higienizar o rosto de maneira adequada, com produtos específicos para cada tipo de pele. Pessoas com a pele mais oleosa, por exemplo, devem utilizar soluções adstringentes para remover todos os resíduos do rosto. Por outro lado, também será necessária uma hidratação mais específica para equilibrar as bactérias e reforçar a barreira cutânea.
— Gel creme e séruns mais gelificados são mais indicados para quem tem a pele mista ou oleosa, enquanto as loções e os cremes hidrantes só seriam suficientes para peles mais ressecadas e sensíveis — sinaliza Clarissa.
A médica orienta que, em casos inflamatórios mais persistentes, que gerem lesões doloridas e não melhorem com os cuidados indicados, é necessário consultar um dermatologista.
O tipo de máscara ideal
As máscaras devem ter pelo menos duas camadas de proteção. De acordo com a dermatologista do Hospital Moinhos de Vento Mariele Bevilaqua, acessórios de tecido de algodão, brancos, lisos e sem adereços (efeitos, pérolas, muitas costuras e rendas, por exemplo) são os ideais. Ela salienta que tecidos coloridos, grossos como o jeans ou sintéticos como a lycra não são indicados.
Clarissa complementa afirmando que as máscaras descartáveis também são adequadas para aquelas pessoas que trabalham na praia e que as produzidas artesanalmente podem ser utilizadas, desde que se observe a higienização delas: não se deve utilizar sabão em pó, amaciantes ou produtos fortes para lavá-las, pois eles podem causar irritação na pele. Depois da lavagem, é preciso enxaguar muito bem e deixar secar totalmente antes de usar.
Com os cuidados indicados pela especialista, é possível eliminar os fatores irritativos. Mas, além deles, há peças que podem ser aliadas na prevenção de ferimentos:
— Existem os afastadores, que não interferem na proteção da máscara, mas auxiliam na circulação do ar na região da boca e diminuem o potencial de irritação do uso do equipamento nessas pessoas que precisam utilizá-lo durante muito tempo.
A importância do protetor solar
As dermatologistas ressaltam que, mesmo com o uso constante de máscara que cobre boa parte do rosto, é fundamental utilizar protetor solar todos os dias. Segundo Liliam, os equipamentos de proteção funcionam como um filtro físico, mas, dependendo do tecido, não impedem que a radiação ultravioleta A ou B entre em contato com a pele.
Além disso, a máscara causa um aumento de temperatura local, e isso pode piorar as inflamações e manchas que a pessoa já tenha na pele. Clarissa enfatiza, entretanto, que o uso de fotoprotetores também pode ser problemático para esses indivíduos, pois eles têm a capacidade de obstruir essas áreas. Por esse motivo, os produtos devem ser adequados para o tipo de pele de quem irá utilizar.
O ideal é higienizar a pele, aplicar o filtro solar em todo o rosto e depois colocar a máscara. Quando necessária a reaplicação do produto ao longo do dia, é importante lavar bem as mãos antes de tocar no rosto e na máscara, orientam as especialistas.