Em todos os passeios em família, as crianças requerem atenção redobrada: basta um piscar de olhos para que elas saiam do campo de visão, com risco de acabarem se perdendo ou se machucando. Na temporada de praia, as possibilidades de acidentes persistem e exigem que os responsáveis adotem uma série de cuidados para evitá-los.
De acordo com o chefe de operações do Corpo de Bombeiros Militar do Rio Grande do Sul, major Isandré Antunes, a principal recomendação é jamais deixar a criança sozinha, seja na areia ou no mar. Não se pode permitir, por exemplo, que ela vá comprar um sorvete ou pegar água do mar para brincar sem estar acompanhada, mesmo que seja perto de onde os adultos se encontram.
Para caminhar pela praia, os pequenos também devem estar sempre de mãos dadas com os pais ou responsáveis.
— Depois de uma certa idade, é um pouco mais difícil manter a criança sempre de mãos dadas. Nesses casos, elas precisam ficar a uma distância de no máximo um metro, dentro do campo de visão — recomenda o major.
Antunes salienta que o perigo da praia não está somente no mar e, por isso, é essencial que o adulto evite distrações a fim de não perder o contato visual com a criança. Para auxiliar nessa situação, os responsáveis podem combinar de revezar a vigilância dos pequenos.
— A criança não se perde, quem a perde é o adulto. Tudo o que é colocado na beira da praia foi feito para distrair, e as crianças se confundem. Para elas, todos os guarda-sóis são iguais. Então, se elas saírem do campo de visão dos adultos, podem ir para outro lugar, se perdem muito fácil — alerta.
Processo educativo
Além desses cuidados, é necessário ensinar à criança algumas medidas de segurança, enfatizando que ela nunca deve entrar no mar sem estar acompanhada de um adulto conhecido ou conversar com estranhos sem a presença dos responsáveis. Os pequenos também precisam entender que devem procurar uma guarita ou os guarda-vidas se estiverem perdidas.
É esse processo educativo que Rosangela Souza, 50 anos, aplica quando vai à praia com o filho Gabriel, de nove anos. Ela ressalta para o menino que ele não pode sair de perto dela acompanhado por uma pessoa que não conheça, mesmo que esta tenha se oferecido para acompanhá-lo ao mar, por exemplo.
— A primeira coisa que eu digo para ele é que só pode ir no mar com permissão, se a gente, ou um adulto que estiver conosco, levar. E quando a gente chega no mar, digo para ele localizar qual a guarita ou tenda em que estamos. Eu sempre procuro ficar perto dos guarda-vidas porque é o primeiro recurso — relata a funcionária pública de Gravataí.
Rosangela também ensinou o filho a memorizar o número da guarita mais próxima. Além disso, orienta que, caso ele se perca, procure imediatamente um guarda-vidas para informar sua localização e pedir ajuda.
— Na semana passada, levamos um susto. Ele estava conosco, mas, em um piscar de olhos, eu procurei e não vi mais. Quando vimos, ele já estava voltando chorando. Ele se perdeu e disse para um rapaz que estava na guarita da família Silva, daí o rapaz o trouxe. Com esse susto, agora ele só fica do nosso lado — conta a mãe.
Pulseirinhas
Um objeto fundamental para garantir a segurança das crianças é a pulseirinha de identificação. Nela, é preciso informar o nome dos responsáveis e o número da guarita mais próxima do local onde estão acomodados. Esses acessórios podem ser encontrados com os guarda-vidas nas guaritas do Litoral gaúcho.
A reportagem de GZH circulou pela praia de Capão da Canoa, no Litoral Norte, e constatou a ausência de pulseirinhas em algumas guaritas. De acordo com o major Antunes, ocorreu um equívoco de logística que resultou na falta dos objetos. Ele afirma que os lotes que estavam guardados já foram encaminhados para as praias para a devida distribuição.
E se a criança se perder?
Se mesmo com todos os cuidados a criança acabar se perdendo, é preciso informar imediatamente aos guarda-vidas da guarita mais próxima: eles possuem um sistema de comunicação que permite avisar todos os profissionais que atuam na praia. Assim, qualquer agente que encontrar a criança vai levá-la para uma guarita e informar sua localização para o grupo.
Além disso, na guarita onde ela for recebida pelos guarda-vidas, será hasteada uma bandeira azul, que significa que naquele local há uma pessoa encontrada. Depois, a criança será levada para a guarita original (mais próxima de onde estava quando se perdeu) para ser devolvida aos responsáveis.
Cuidados no mar
Segundo o major Antunes, o limite de profundidade para uma criança no mar é a altura da cintura, pois, caso caia em um buraco, o responsável pode puxá-la rapidamente. O indicado é que o adulto entre no mar de mãos dadas com a criança e pare assim que a água chegar na cintura dela. Depois, o ideal é que o responsável fique de frente para ela e de costas para as ondas - posição que impõe um limite para o pequeno e possibilita o contato visual.
Também não se recomenda que o adulto entre no mar com a criança no colo, já que pode transmitir a ideia de que a praia é um espaço de exploração ilimitado. Antunes salienta ainda que as boias e flutuadores não substituem a supervisão de um responsável e não são garantias de sobrevivência na água:
— Mesmo que dê boia, o adulto precisa ficar perto e manter o contato visual.
Estar atento à cor das bandeiras das guaritas é outra dica fundamental: o major explica que, na vermelha, não se deve levar as crianças no mar nem no raso, pois há uma força de arrasto da água que as colocam em risco. A verde é a única que sinaliza aos responsáveis que podem levar os pequenos no mar em segurança.
Produção: Jhully Costa