Com a flexibilização das restrições para a operação de clubes e áreas comuns em condomínios, além da proximidade da chegada dos dias mais quentes, surgem muitas dúvidas em relação ao risco de infecção por coronavírus durante o uso de piscinas para lazer ou prática de exercícios.
Em Porto Alegre, o decreto 20.780, de 29 de outubro, estabelece que a lotação em centros de treinamento, clubes esportivos ou sociais e condomínios não ultrapasse 50% da capacidade máxima prevista no alvará de prevenção contra incêndio. Distanciamento de dois metros entre cadeiras/espreguiçadeiras e uso de máscara nos arredores das piscinas, entre outras regras, também foram detalhados.
GZH pediu que leitores enviassem seus questionamentos sobre o tema e acrescenta também outros tópicos à discussão. Dois infectologistas, membros da Sociedade Rio-Grandense de Infectologia, foram consultados: Alexandre Zavascki, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), e Andréa Dal Bó.
É possível pegar coronavírus pela água da piscina?
Pergunta enviada por Vanderleia, de Porto Alegre
Alexandre Zavascki explica que o cloro diluído na água tem a propriedade de inativar diversos vírus, mas ainda não estão definidas, de acordo com a literatura científica, as especificidades em relação ao coronavírus, como a concentração necessária da substância conforme a quantidade presente de partículas virais. Em teoria, o cloro colocado na água é capaz de inativar o Sars-CoV-2, mas mais detalhes deverão surgir em pesquisas futuras.
Para Andrea Dal Bó, a água da piscina não apresenta risco. Engoli-la, comenta a médica, também não fará com que a pessoa se infecte.
— É diferente de algumas bactérias que persistem na água e causam diarreia — exemplifica a infectologista.
Muda algo na limpeza da piscina?
Cloro basta, afirma Andréa.
Uma pessoa com covid-19 pode contaminar outras dentro d’água?
Sim, por meio das gotículas expelidas pela fala e ao tossir ou espirrar. Quem estiver sintomático não deve frequentar esses espaços. Zavascki alerta que é muito importante manter a distância mínima entre pessoas dentro da piscina, com exceção para integrantes do mesmo grupo de convívio diário.
Quais os cuidados necessários para a utilização de piscinas em clubes, hotéis e condomínios?
Perguntas enviadas por Douglas Bersch, Fernanda Cardoso, Vanderleia e Márcia Zirbes Lages, de Porto Alegre, Débora, de Eldorado do Sul, Isabel, de Santa Rosa, Arlete Silva, de Gravataí, e Ricardo, de Novo Hamburgo
O grande desafio é manter o distanciamento dentro d’água entre os banhistas, diz Zavascki. Para diminuir o risco de transmissão nas áreas comuns e de circulação, é fundamental limitar o número de pessoas e oferecer a possibilidade de marcação e reserva de horários. Se houver como delimitar áreas para grupos, melhor. Sinalizações no chão e cartazes informativos são essenciais. Funcionários que possam orientar os frequentadores também ajudam muito.
O que é o jornalismo de engajamento, presente nesta reportagem?
É uma prática jornalística que coloca o público como protagonista da notícia, criando uma troca positiva e impactante na comunidade. Queremos abrir ainda mais espaço para que você, leitor, possa participar da construção do nosso conteúdo desde a concepção até o feedback após a publicação.
Como engajamos o público?
Convidamos nossos leitores a participarem da construção do conteúdo pelas redes sociais, monitoramos o que é discutido nos comentários das matérias e publicamos formulários que dão espaço a dúvidas e sugestões.
Para quem estiver tomando banho de sol, Andréa indica distanciamento e uso constante de máscara (como alternativa, Zavascki sugere que a pessoa não fale quando estiver tomando sol sem máscara, se quiser evitar possível marca no rosto). A infectologista também recomenda que cada um faça a higienização das cadeiras e das mesas, antes e depois do uso, não ficando dependente da limpeza realizada pelos funcionários.
— Temos que ter consciência de coletividade — justifica a médica.
Piscinas térmicas devem ser evitadas — ambientes fechados e úmidos têm mais aerossóis (micropartículas expelidas pela pessoa que ficam mais tempo suspensas no ar). Em piscinas abertas, além da circulação de ar, há a incidência de sol, que desidrata as gotículas com vírus.
O ideal, frisa Zavascki, é que apenas os núcleos familiares que coabitam fiquem próximos:
— Fora desse círculo, deve-se manter as medidas de total distanciamento.
Pode-se entrar no vestiário do clube?
O ideal é não usar o vestiário ou entrar apenas quando for extremamente necessário, para prevenir os riscos de um ambiente fechado e úmido. Seque-se do lado de fora, leve um roupão e tome banho em casa, se possível. Quando for necessário entrar, que seja rápido. Ao chegar em casa, o mais importante é lavar logo as mãos. Toalhas que foram utilizadas na área da piscina devem ser lavadas antes do próximo uso.
Quais cuidados devemos tomar com as crianças na piscina do condomínio?
Pergunta enviada por Douglas Molina, de Ivoti
Crianças devem brincar apenas com quem convivem habitualmente. Ou seja, não é seguro convidar os primos e os amiguinhos que estão há muito tempo sem contato presencial. Quando elas saírem da água, devem enxugar bem o rosto e colocar máscara, indica Andréa.
Como utilizar corretamente a máscara?
Em um ambiente úmido, a máscara não funciona porque fica molhada. Quem fica na beirada da piscina para cuidar das crianças pode inutilizar o acessório devido à agua que respinga. Sob calor, o suor também umedece a máscara e a torna ineficaz. Certifique-se de levar outras, limpas, para as trocas.
E quanto às piscinas de plástico?
Cuidado com a aglomeração. Por ser um espaço menor, fica mais difícil conseguir manter o distanciamento adequado. O ideal, portanto, é que apenas pessoas habituadas ao convívio permanente compartilhem o banho.
— Piscina de plástico tem que ser para o grupo familiar que reside no mesmo domicílio — detalha Andréa.
Há riscos na prática da natação em piscinas ao ar livre?
Pergunta enviada por Beth, de Porto Alegre
Ainda não há evidência científica a respeito, comenta Zavascki, porque esses cenários ainda não foram muito testados, mas se pode supor que ter contato com partículas de saliva contaminadas maiores e mais espessas ofereça mais risco de infecção. O mesmo vale para a secreção nasal. No caso da natação, é recomendável manter raias vazias na piscina para aumentar o distanciamento entre os praticantes.
Quem assoa o nariz ou cospe pode contaminar a água?
Sim. Quanto maiores as partículas virais (presentes em perdigotos e coriza, por exemplo), mais difícil a diluição delas na água.