Em mais um sinal de agravamento da pandemia em Porto Alegre, a quarta-feira (24) começou com os três prontos-atendimentos (PAs) da cidade — Bom Jesus, Lomba do Pinheiro e Cruzeiro do Sul — e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Moacyr Scliar, na Zona Norte, lotados de pacientes.
A pior situação é na PA Bom Jesus, onde a superlotação é 428,57%. Eram 30 pessoas e sete leitos. O tempo de espera médio é de duas horas e 45 minutos.
Na fila desde às 7h, o instalador Matheus Nascimento, 26 anos, aguardava por mais de três horas a sua vez de ser chamado para avaliação médica. O jovem conta que, em agosto passado, foi infectado pelo coronavírus, mas que se recuperou. Contudo, desde o último sábado (20), vem apresentando sintomas que lhe são familiares:
— Estou com dor de cabeça, dor no corpo, ânsia de vômito. Eu cheguei a vir aqui na segunda-feira (22), mas a fila está enorme e eu acabei desistindo. Nessa madrugada, não deu para aguentar e vim para cá de novo. Espero que seja atendido logo. Fico com medo dessa doença, porque tenho dois filhos pequenos. Além disso, minha casa fica no mesmo que a casa da minha avó, que tem cem anos — relata.
Gisele Lourenço, 37 anos, autônoma, afirma que a espera por atendimento é desde a semana passada. Isso porque ela estava com suspeita de covid, se encaminhou à unidade da Bom Jesus e aguardou 13 horas para ser atendida. Após a realização do teste, foi constatado que ela não havia contraído a doença. Contudo a filha, 16 anos, apresenta há quatro dias sintomas como vômito, dor no corpo e dor de cabeça.
— A gente espera que ela seja atendida logo, mas já estamos faz mais de três horas na fila. Muito complicada a situação. A cidade não está conseguindo lidar com essa doença, ficamos impotentes com essa situação — desabafa.
Na Lomba do Pinheiro, pouco antes das 7h30min, a superlotação atingiu 455%: eram 41 pessoas ocupando um espaço projetado para nove. Às 7h45min, os dados foram atualizados, e a superlotação baixou para 266%.
Em frente à unidade, poucas pessoas aguardavam para serem atendidas — situação diferente dos últimos dias, quando longas filas se formaram já durante a manhã. Na parte interna do PA, funcionários afirmam que há pessoas com dificuldade para respirar, assistidas por oxigênio, aguardando improvisadas em poltronas ou corredores.
Já a UPA Moacyr Scliar permanece fechada. Nesta manhã, seguranças avisavam a quem chegava que não havia atendimento devido à situação crítica. Uma folha de ofício fixada no portão afirma que a "capacidade operacional está esgotada".
Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, o secretário de Saúde da Capital, Mauro Sparta, declarou que a UPA da Zona Norte deve reabrir ainda na manhã desta quarta. Isso ocorreria graças à transferência de pacientes ao Hospital Conceição — são 51 pessoas em 17 leitos.
O PA da Cruzeiro do Sul apresenta a menor superlotação entre as unidades: 200%. No começo da manhã, eram 24 pacientes ocupando um espaço projetado para 12 leitos.
Um homem que preferiu não se identificar conta que a avó, 92 anos, estava sem se alimentar há dois dias e apresentava febre. Ao ser encaminhada para a UPA, a idosa foi testada e positivada para o coronavírus e, desde sábado (20), ele aguarda um leito para a avó:
— Está muito crítica a situação. Essa nova onda de covid está muito forte. E é angustiante isso tudo, porque só resta esperar por essa internação. Estamos de mãos amarradas, sem ter o que fazer, porque está tudo lotado.
Frente aos números críticos, a prefeitura afirma que ampliará a oferta de vagas em UTIs com hospitais conveniados. Também recomenda que quem tem sintomas leves não procure os prontos-atendimentos, mas sim os postos de saúde.