Uma pesquisa Datafolha, publicada nesta segunda-feira (6), mostra que a maioria dos brasileiros é a favor do isolamento social para evitar o contágio pelo novo coronavírus e impedir que o vírus se espalhe – mesmo que isso signifique prejudicar a economia e causar desemprego.
Segundo a pesquisa, 76% dos ouvidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acreditam que o mais importante neste momento é deixar as pessoas em casa, nos moldes atuais de isolamento social, e 18% dos entrevistados têm a visão contrária.
A pesquisa foi feita entre 1º e 3 de abril. Foram 1.511 pessoas entrevistadas excepcionalmente por telefone, em razão da pandemia. Em geral, o Datafolha trabalha com pesquisas feitas presencialmente, abordando pessoas em pontos de fluxo. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos.
O presidente Jair Bolsonaro defende o chamado "isolamento vertical", apenas para idosos e doentes. A posição vai contra o que vem sendo defendido por infectologistas, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo próprio Ministério da Saúde. O argumento é que os mais jovens podem trazer o vírus para dentro de casa e infectar outras pessoas.
A população, em sua maioria, está de acordo com o que dizem os especialistas. Na verdade, o brasileiro defende até o endurecimento das medidas em relação ao que vem sendo aplicado pelos governadores estaduais e prefeituras.
No momento, não há nenhuma situação de "lockdown", como em muitos países europeus. Ou seja, não há penalidade no Brasil para quem sair de casa. A estratégia é baseada apenas em convencimento e estímulo a que as pessoas permaneçam em casa.
Para 71% dos entrevistados, no entanto, o governo deveria proibir por algum tempo que todas as pessoas que não trabalhem em serviços essenciais saiam às ruas, para diminuir o contágio. Declaram ser contrários 26%. Por enquanto, não há previsão de que a medida seja adotada, mas governadores já disseram que ela poderá ser considerada caso a crise piore.
Os entrevistados também não parecem muito confiantes de que as restrições serão levantadas logo. Em média, os pesquisados acreditam que as medidas de isolamento vão durar mais 29 dias. Mas o ideal, dizem eles, é que a situação se mantenha por um período maior, de 32 dias em média.
Por região
O apoio para que as pessoas fiquem em casa é maior no Nordeste: são 81% os favoráveis na região.
No Sul, 70% defendem que as pessoas não saiam de casa para trabalhar. É o menor índice entre as regiões do país. Na mesma linha, dois terços dos entrevistados querem manter a proibição de abertura do comércio não essencial, enquanto 87% dizem que as aulas devem continuar suspensas.
Comércio e escolas
Desde o início da crise, Bolsonaro tem defendido a reabertura do comércio para, segundo ele, proteger empregos, sobretudo aqueles de trabalhadores informais.
— O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade — disse o presidente em pronunciamento na TV no dia 24 de março, o mesmo em que classificou a covid-19 de "gripezinha e resfriadinho".
Numa proporção de dois para um, contudo, os brasileiros entendem que o fechamento segue sendo necessário. Defendem a restrição 65% dos entrevistados, contra 33% que favorecem a reabertura das lojas. Neste momento, apenas estabelecimentos como mercados e farmácias têm autorização para funcionar. Os demais seguem com atividades vetadas pelos governos estaduais.
Embora Bolsonaro venha dizendo que a reabertura do comércio protegeria os trabalhadores informais, sobretudo os mais pobres, não há alterações significativas em estratos de renda mais baixa da população, segundo a pesquisa. Apoiam o fechamento do comércio 67% das pessoas com renda familiar mensal de até dois salários mínimos, e 62% dos entrevistados no segmento que ganha de dos a cinco salários mínimos.
Quanto à volta às aulas, é defendida por apenas 11% das pessoas entrevistadas, contra esmagadores 87% contrários. A reabertura das escolas é outro ponto que o presidente tem defendido, com o argumento de que as crianças e jovens não fazem parte do grupo de risco, e, portanto, não têm porque ficar em isolamento.