BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Em seu terceiro pronunciamento em rádio e televisão sobre a crise do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro criticou nesta terça (24) o fechamento de escolas para combater a epidemia, atacou governadores e culpou a imprensa pelo que considera clima de histeria instalado no país.
O presidente afirmou que desde o início da crise o governo se preocupou em conter o "pânico e a histeria" e emendou com ataques à mídia.
"Grande parte dos meios de comunicação foram na contramão. Espalharam a sensação de pavor, tendo como carro-chefe o grande número e vítimas na Itália", declarou Bolsonaro, para argumentar que o país europeu tem características distintas das do Brasil. "O cenário perfeito potencializado pela mídia para que histeria se espalhasse para o país", complementou.
O presidente disse também que "nossa vida tem que continuar" e os empregos precisam "ser mantidos". "O sustento das famílias deve ser preservado. Devemos, sim, voltar à normalidade", afirmou.
Bolsonaro ainda voltou a comparar a Covid-19 a uma "gripezinha" ou "resfriadinho".
As declarações de Bolsonaro ocorrem em meio a diversas ações de governos estaduais para restringir a movimentação de pessoas, sob o argumento de que a redução de contato social é necessária para conter a transmissão do vírus.
O presidente atacou governadores e disse que eles precisam "abandonar o conceito de terra arrasada", com a proibição de transporte, o fechamento de comércio e o que chamou de confinamento em massa.
"O que se passa no mundo mostra que o grupo de risco é de pessoas acima de 60 anos. Então, por que fechar escolas?", questionou o presidente em seu pronunciamento. "Raros são os casos fatais, de pessoas sãs, com menos de 40 anos de idade."
Todos os estados, além do DF, decidiram suspender as aulas da rede estadual para evitar a disseminação da doença. A defesa da reabertura de escolas vai na contramão do que tem sido feito nas últimas semanas em dezenas de países que enfrentam a pandemia. Até esta quarta, a doença já matou mais de 16 mil pessoas.
Durante a transmissão, Bolsonaro foi alvo pelo oitavo dia seguido de panelaços em grandes cidades brasileiras, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.
Apesar de ter pregado a volta à normalidade, contrariando orientações de especialistas de redução do contato social, Bolsonaro disse que é preciso se preocupar com a contaminação do vírus.
Ele concluiu dizendo que, se ele fosse contaminado, por seu histórico de "atleta", não deveria se preocupar.
A última vez que o presidente chamou o sistema de rádio e TV para falar à população tinha sido no dia 12 de março, quando ele sugeriu que seus apoiadores não comparecessem a atos de rua planejados para o domingo seguinte, 15 de março. A justificativa era que aglomerações poderiam facilitar a transmissão da Covid-19.
O presidente, no entanto, descumpriu sua própria orientação e, no dia programado para as manifestações, se reuniu com simpatizantes em frente à rampa do Palácio do Planalto. Na ocasião, ele tocou em pessoas, as cumprimentou e posou para selfies.
Antes disso, no dia 6 de março, Bolsonaro havia feito um pronunciamento para dizer que o país tinha reforçado seus sistemas de vigilância sanitários em portos e aeroportos, como preparação para o avanço do Covid-19.
A nova doença causou até o momento 46 mortes no Brasil. Há 2.201 casos confirmados de coronavírus. O primeiro óbito foi registrado no dia 17 deste mês.
Bolsonaro minimizou em diversas ocasiões os impactos do Covid-19 e criticou medidas de restrição de movimento que têm sido adotadas por governadores.
Ele já se referiu à enfermidade como gripezinha e argumentou que ações como o fechamento de comércios e divisas entre os estados causam prejuízos econômicos para o país.
"Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia", afirmou Bolsonaro no dia 17 de março, em entrevista à rádio Tupi.
Outra marca da resposta de Bolsonaro à pandemia tem sido a troca de acusações com governadores, principalmente com João Doria (PSDB), de São Paulo, e Wilson Witzel (PSC), do Rio de Janeiro.
Ele já se referiu a Doria como "lunático" e acusou Witzel de tomar medidas que extrapolam suas funções, como se o Rio de Janeiro fosse um país independente.
Nos últimos dias, no entanto, o presidente vinha adotando gestos de moderação e de busca de diálogo com os chefes de Executivo estaduais.
Embora ainda reitere que ações excessivas de restrição de movimentação não devem ser adotadas, ele realizou videoconferências com governadores e lançou um pacote bilionário de ajuda aos entes subnacionais.
Segundo o governo, o conjunto de medidas soma mais de R$ 88 bilhões e inclui a suspensão do pagamento da dívida dos estados com a União e a manutenção de repasses do FPE (Fundo de Participação dos Estados) e do FPM (Fundo de Participação dos Municípios) nos níveis de 2019.
Apesar do pacote, governadores do Centro-Oeste e do Sul pediram nesta terça mais medidas a Bolsonaro para auxiliar no combate à pandemia. O argumento é que os estados vivem realidades diferentes e ações como o reforço do FPE e do FPM, embora importantes para o Norte e Nordeste, não contemplam as necessidades dos demais entes federados.
O presidente ainda deve realizar nesta semana uma teleconferência com os governadores do Sudeste.