Com mais de 780 casos de covid-19 confirmados até a primeira quinzena de abril, o Rio Grande do Sul deve receber reforços para enfrentar a pandemia nas próximas semanas. Após o Ministério da Educação (MEC) autorizar a formatura antecipada de alunos dos cursos da área da saúde, pelo menos cinco universidades anunciaram que devem alterar a data para a colação de grau dos alunos. Serão mais de 220 novos médicos até o mês que vem.
Entre as sete federais que oferecem o curso de Medicina, a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e a Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) já bateram o martelo e planejam formaturas a partir da semana que vem. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e a Universidade Federal do Pampa (Unipampa) disseram que estão analisando as possibilidades, enquanto a Universidade Federal do Rio Grande (Furg) informou que não terá como antecipar as datas por não se enquadrar nos critérios da portaria do MEC.
O documento do governo prevê que as colações de grau dos cursos de Medicina, Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia de instituições federais podem ser antecipadas, desde que o aluno tenha completado 75% da carga horária prevista para o período de internato médico ou estágio supervisionado. A autorização vale enquanto durar a situação de emergência pública em decorrência da covid-19.
Antes mesmo da publicação da medida, que foi divulgada em 3 de abril e tem como objetivo oferecer mais profissionais para o combate do coronavírus, o assunto já era discutido na UFSM. Um grupo de apoio à covid-19 formado em janeiro alertou para a necessidade de reposição dos profissionais da saúde se a doença chegasse ao Brasil.
— Esse grupo já previa que nós teríamos de ter alguma ação para liberar nossos alunos para a linha de frente. No início da suspensão das aulas, nos reunimos com os alunos da Medicina e com a coordenação do curso. Foi um acordo fácil, porque eles já queriam ajudar — conta a pró-reitora de Graduação, Martha Adaime.
A partir do encontro, a universidade ampliou a carga horária dos estudantes para acelerar a conclusão do curso — como ainda não havia orientação governamental, a ideia era adiantar o cumprimento integral do currículo. Com a medida interna, as formaturas não precisarão ser amparadas na portaria, já que os formandos vão completar todos os estágios exigidos para a conclusão do curso. A previsão é de que 58 alunos colem grau em uma cerimônia virtual ainda na primeira semana de maio, depois de prestar um último exame.
Já na UFFS, a antecipação da formatura da Medicina foi permeada por dilemas. A turma que se enquadrava nos critérios estabelecidos pelo governo federal não teria tempo de integralizar o currículo caso a universidade aderisse à medida.
— Não foi uma decisão fácil. Os alunos tinham começado as atividades em janeiro e concluiriam em junho. Tinham 92% da carga horária. Como eles tinham passado por todas as áreas, no mínimo uma vez, os professores entenderam que tinham condições de atuar, e a universidade aprovou — recorda o coordenador acadêmico do Campus Passo Fundo, Leandro Tuzzin.
Dos 38 estudantes aptos a se formar, 36 aceitaram antecipar a colação de grau. Eles receberão o diploma em gabinete, com horários agendados, na próxima terça-feira. A universidade fará a transmissão ao vivo para que as famílias possam assistir à entrega do documento.
Na Universidade Federal de Pelotas, o Comitê Acadêmico da UFPel na Pandemia deu parecer favorável à antecipação de formatura dos cursos da área de Saúde. Conforme os requisitos da portaria, estão aptos 45 alunos de Medicina, um de Enfermagem e dois de Farmácia. Segundo a assessoria de imprensa da instituição, a Medicina deve ser a primeira, possivelmente na semana que vem.
Entre as universidades particulares, que não estão contempladas na portaria, a Universidade de Passo Fundo (UPF) optou por antecipar cerimônias — a formatura da Medicina prevista para julho. A colação de grau em gabinete ocorrerá nos dias 22 e 23 de abril e diplomará 43 novos médicos. É o mesmo caso da Universidade de Caxias do Sul (UCS) que fará a colação de grau antecipada de 45 alunos com currículo integralizado no dia 24.
Procuradas pela reportagem, PUCRS, Ulbra, Univates, Unisc, UFN e Imed não preveem antecipações. A Feevale, de Novo Hamburgo, disse que o assunto está sendo analisado. Ao todo, 18 instituições oferecem o curso de Medicina em todo o Estado.
Em nota, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers) manifestou contrariedade à antecipação das formaturas, e disse não concordar com a justificativa de que os alunos poderão auxiliar no combate ao coronavírus. O texto, assinado pelo presidente do Conselho, Eduardo Neubarth Trindade, informa ainda que medidas judiciais e extrajudiciais para barrar o processo estão sendo estudadas.
"Para a autarquia federal, a antecipação da formatura dos alunos do internato não traz qualquer benefício, seja para a população ou para o serviço de assistência. Não traz benefícios para os próprios estudantes, que terão sua formação prejudicada em uma etapa crucial — os últimos estágios de internato, nos quais têm acesso a importantes conteúdos e vivências, sempre sob supervisão de um profissional médico".
"Além disso, a justificativa de que poderão colaborar com as ações de combate à covid-19 não se sustenta, uma vez que esses formandos já estão em atividade no atendimento às pessoas. Já dão a sua contribuição, dentro do que a formação permite, e sob a supervisão direta de um médico responsável, o que garante a segurança do paciente e do próprio aluno", diz a nota.