As crianças são consideradas a faixa etária menos sensível a complicações da covid-19 até agora. Não há nenhum registro de mortes entre aquelas com menos de 10 anos, e as mais velhas representam minoria entre mortes e casos graves.
Por outro lado, sabe-se que crianças com menos de 10 anos expostas ao vírus o contraíram na mesma taxa que os adultos, na faixa de 8%. Ou seja, o risco de contaminação é o mesmo. Além disso, os pequenos são vetores da doença, podendo transmiti-las a pessoas em situações mais vulneráveis.
Os dados reforçam a importância das famílias aderirem à quarentena, saindo de casa o mínimo possível, e levantam dúvidas sobre os cuidados com a saúde dos mais jovens durante o confinamento. Para o médico José Paulo Ferreira, dirigente da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul, a prioridade, neste momento, é o foco na saúde mental.
— Os pais acham que as crianças não vão aguentar ficar em casa, mas elas são as que estão em melhores condições: não vão ter que pagar contas nem ficar desempregadas. Só que percebem o ambiente negativo e podem ser afetadas. É preciso conversar sobre isso, ouvir o que a criança tem a dizer e tentar ser lúdico nesse momento, que é novo para todos — diz.
Nesta semana, a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou documento com uma série de recomendações aos pais para esse período. Com base nessa publicação e em conversas com especialistas, destacamos os pontos principais:
Saúde mental
Converse com as crianças sobre o assunto e, principalmente, ouça o que elas têm a dizer. É importante criar um ambiente acolhedor, permitindo que possam chorar, e também mostrar-se vulnerável. Não há mal em admitir que esse é um problema para o qual ainda não há solução e que não sabe quando vai acabar. Tente manter uma rotina organizada, com horários para dormir, acordar e fazer refeições, e, se possível, dedique mais tempo para as atividades lúdicas em família. Esse também pode ser um período de aproximação entre pais e filhos.
Amamentação
Não há estudos que indiquem que a covid-19 pode ser transmitida pelo leite materno. Pelo contrário, sabe-se que amamentar é a melhor forma de fortalecer a imunidade dos bebês. Caso a mãe apresente sintomas ou esteja contaminada pela doença, ela pode seguir amamentando desde que lave bem as mãos e use máscara enquanto estiver com a criança no colo.
— Se ela não se sentir confortável, pode esgotar o leite para que outra pessoa dê com a mamadeira — aconselha Ferreira.
Alimentação
Tente manter uma rotina alimentar, com horários para café da manhã, almoço e lanche. A criança pode ser envolvida no processo, ajudando a preparar uma salada ou colocando a mesa. Se o tempo for exíguo, tire um dia para fazer preparações da semana e congele. Procure estimular uma alimentação saudável, incluindo pelo menos um alimento de origem vegetal cru ao longo do dia.
— Não tem nenhuma comprovação que determinado alimento dá imunidade, mas aqueles de fonte vegetal, in natura, tem efeito protetor do corpo como um todo, e das células em particular — explica Lovaine Rodrigues, especialista em nutrição infantil.
A vontade de comer guloseimas também tende a ser mais frequente durante o confinamento. Não há problema em deixar que comam algo não saudável, desde que sob o controle dos pais, o mínimo possível e com hora marcada — na sobremesa ou no lanche, por exemplo.
Atividades físicas
Movimentar-se é fundamental para manter a saúde em dia e garantir um desenvolvimento saudável. Tire ao menos 30 minutos diários para estimular ou praticar exercícios com as crianças. O período pode ser dividido em dois turnos, e incluir brincadeiras, como pular cordas, dançar ou fazer um circuito com almofadas.
Exposição ao sol
Assim como os adultos, as crianças não devem sair de casa durante a quarentena. Mas isso não quer dizer que não vão tomar sol. Estimule as brincadeiras na varanda, perto da janela ou no quintal. Se morar em condomínio, avalie com os vizinhos a possibilidade de revezar saídas curtas com os pequenos nas áreas comuns.
— Se os pais todos resolverem sair com as crianças, vai aumentar o risco — alerta o coordenador do serviço de infectologia pediátrica da Santa Casa de Misericórdia, Fabrizio Motta.
Imunização
Vacine seu filho contra a gripe. A imunização ajuda a desafogar o sistema de saúde, facilita os diagnósticos e reduz complicações. Lembre-se que crianças com asma, bronquite, rinite e outras questões respiratórias podem desenvolver sintomas dessas patologias sem que isso esteja relacionado ao coronavírus.
Higiene
Ensine seus filhos a higienizarem as mãos e reforce que esse cuidado deve ser um hábito, mesmo quando a pandemia acabar. Também é importante orientar as crianças sobre como espirrar e tossir com proteção. Isso pode ser feito de forma lúdica, com jogos e brincadeiras. Reforce a limpeza da casa, especialmente se houver moradores que ainda circulam na rua.