Entrar em um motor home e sair pelo mundo é algo que faz parte do imaginário de muitas pessoas. Para algumas delas, a pandemia foi o ingrediente que faltava para dar esse passo. Soma-se a isso uma mudança na legislação promovida dois anos antes, que facilitou a regularização de veículos adaptados, e pronto: nos últimos três anos, o que se viu foi uma explosão na procura por esse tipo de automóvel e de viagens nessas casas sobre rodas.
Em resolução publicada em novembro de 2018, o Conselho Nacional de Trânsito (Contran) acabou com a exigência do Certificado de Adequação à Legislação de Trânsito (CAT), que até então dava dor de cabeça – e um desfalque no bolso – dos proprietários. Este foi um dos facilitadores, ainda que continue sendo obrigatória a emissão do Certificado de Segurança Veicular (CSV), atestando que o projeto foi endossado por um engenheiro responsável.
Mas quem quer mesmo adotar esse estilo de viagem precisa estar preparado. As opções variam conforme o perfil de cada pessoa, grupo ou família. Roteiro, tipo de veículo, facilidades e capacidade de investimento estão entre os critérios que devem ser observados na hora de tomar essa decisão.
André Toledo, de São Paulo, define seu estilo como minimalista. A bordo de uma “Kombi amarelo-sedex” – como intitula em referência ao antigo emprego do automóvel –, ele e a noiva, Gabriela Figueiredo, percorrem longas distâncias em busca de praias e cachoeiras. Ao menos duas vezes por mês eles saem da cidade para se divertir com diferentes destinos e, por que não, com o próprio trajeto.
— Meus amigos e eu gostamos de viagens mais longas porque a gente acaba aproveitando o caminho também. Tudo faz parte da magia do motor home — garante Toledo.
Segundo ele, o veículo, ano 2007, dá conta do recado porque atende o nível de exigência dos dois. No começo, inclusive, a estrutura era ainda menor.
— Passamos dois anos viajando com um colchão inflável no meio do salão da Kombi e um fogareiro de uma boca só — recorda.
Mas os tipos de motor home variam muito e podem chegar a R$ 500 mil ou até mais, dependendo do grau de conforto que os viajantes procuram. Mas, segundo ele, tudo vale a pena quando se tem a liberdade de dormir em qualquer lugar, acordar e seguir viagem. Afinal, já se está em casa.
Toledo diz que a região sul conta com uma estrutura mais consolidada de apoio a motor homes, o que ainda não é a realidade de São Paulo e do Nordeste, por exemplo. Para reverter isso, promove eventos em seu Estado natal, reunindo centenas de viajantes a bordo de suas casas motorizadas. A ideia é sensibilizar políticos e empresários para que coloquem pontos de apoio à disposição dos viajantes.
Os campings são outra opção de suporte, mas a turma tem achado o preço um impeditivo. A diária pode custar cerca de R$ 40 por pessoa, para ter acesso a uma vaga, cozinha coletiva e banheiro com chuveiro. Multiplicando pelo número de passageiros e dias de permanência, o valor pode ficar um pouco alto para uma proposta de viagem que é, muitas vezes, baseada em economia.
A dica é investir um pouco mais no veículo e contar com placas solares e um grande reservatório de água, por exemplo, para ter autonomia e menos custos durante os deslocamentos. Trocar o documento para “motor casa” também pode ajudar, já que, via de regra, reduz o preço do seguro. Mas essa ideia não seduziu André.
— Como a Kombi é considerada um furgão exclusivo para carga, eu posso transportar qualquer coisa. Alguns amigos estão demorando cerca de um ano para ter os documentos modificados — alerta.
Acompanhe as viagens de André e Gabriela pelo instagram @kombriza_trips e também os eventos que eles promovem, pelo perfil @motorhome_brasil.
O que diz a legislação
- São considerados motor home ou motor casa: veículos cuja finalidade seja de moradia, comércio, escritório ou relacionados
- É importante que esteja devidamente seguro para ser capaz de manter os móveis, sem que caiam, e transportar passageiros com tranquilidade
- Condutores de CNH categoria B estão autorizados a dirigir motor home com o peso bruto máximo (PBT) de até seis toneladas e nove passageiros, mais o motorista
- Caso o PBT ultrapasse esse total, a CNH de categoria B não será permitida para condução do veículo, sendo necessária habilitação D ou E
- Desde 2018, não é mais preciso obter o CAT caso o veículo seja transformado
- O Certificado de Segurança Veicular (CSV) continua obrigatório, garantindo que o veículo atende à legislação de trânsito e possui um projeto com engenheiro responsável
Fonte: Detran/RS