A pandemia acelerou um processo que já era apontado como uma tendência: a regionalização do turismo. Depois de perdas gigantes, o setor volta a se estruturar e incentivar, cada vez mais, os destinos locais. Uma pesquisa feita pelo Sebrae RS em 2019 já havia sinalizado uma propensão dos gaúchos a desbravarem mais o território do Rio Grande do Sul. Com as limitações para percorrer longas distâncias e a insegurança causada pelo coronavírus, as rotas daqui ganham força.
Amanda Bonotto Paim, analista de competitividade de turismo do Sebrae RS, diz que o levantamento, realizado em 2019 por meio do monitoramento de 16 municípios, mostrou que 59,8% dos turistas do Estado são gaúchos. Do total, 50% representavam a classe C, 27% a B e 4,3%, a A. Contudo, a pandemia acarretou uma mudança nesse perfil:
— Entendemos que, agora, há uma diminuição na classe C, que está mais fragilizada, mas há movimentação das classes A e B, o que é ótimo, pois essas pessoas, normalmente, não consideravam viajar pelo Rio Grande do Sul. Elas iam para fora do país — observa. —Queremos qualificar a oferta para as pessoas se sentirem seguras. Nosso trabalho é focado no turista jovem adulto, entre 18 e 40 anos, mais descolado e aberto para viver coisas bacanas, fora do óbvio— destaca Amanda.
Novas rotas e propostas diferenciadas para destinos já consagrados foram apresentadas durante a 32ª edição do Festuris, tradicional feira de turismo de Gramado, que aconteceu entre os dias 5 e 7 de novembro, no Serra Park. Confira:
A Costa Doce
A menos de 300 quilômetros de Porto Alegre, um paraíso pouco explorado convida os amantes da natureza para dias de aventura e contemplação. Ponto de passagem de aves migratórias, a Lagoa do Peixe, situada no município de Tavares, faz parte dos destinos da Rota dos Patrimônios 100% Natureza. O roteiro completo apresenta as belezas da costa doce gaúcha e engloba, além de Tavares, São José do Norte e Rio Grande.
Na maioria dos lugares, o tour fica ao gosto do freguês. Em Tavares, João Batista Cardozo, proprietário da Lagoas Expedições e Turismo, conta que tudo é personalizado:
— Desenhamos o roteiro, não entregamos o bolo pronto.
Cardozo leva para conhecer a região aqueles que se interessam pela observação de aves, fotógrafos e turistas que desejam contato com a água, a flora e a fauna — a lagoa é muito frequentada por flamingos. Eles ficam ainda mais "exibidos" até meados de dezembro, sustenta Cardozo. A passagem por Tavares pode render uma visita a três faróis da região: o de Mostardas (que, curiosamente, fica em Tavares), Capão da Marca e Cristóvão Pereira.
Em São José do Norte, uma pernada de aproximadamente três horas conduz os turistas até a ponta do molhe leste, cerca de quatro quilômetros dentro d'água. Se o passeio for feito no fim do dia, o viajante ainda ganha o bônus de um pôr do sol com piquenique na volta. A região também oferece passeios de lancha para avistamento de lobos e leões marinhos, além de um roteiro náutico para possível visualização de botos.
— Todos os passeios são pela Lagoa dos Patos, saindo de São José do Norte ou de Rio Grande — explica Alex Sandro de Oliveira Souza, agente de viagem da Laguna Sul Serviços e Turismo.
A experiência fica completa em Rio Grande, onde os visitantes podem conhecer o Taim mais de perto, observando animais como capivaras, ratões do banhado, tachã (ave típica da estação) e, dependendo da época do ano, até flamingos.
— Em uma das trilhas básicas, passeamos no entorno do Taim e vamos até a Capilla, uma vila de moradores. Pode-se tomar banho na Lagoa Mirim, observar as falésias que se formam na Capilla e presenciar um pôr do sol magnífico — conta Minéia Silvana Oliveira Rola, proprietária da Minéia Turismo, que faz roteiros como esses.
Informações
Lagoas Expedições e Turismo: (51) 99989-5250, (51) 3674-1333 ou neste site.
Laguna Sul Serviços e Turismo: (53) 98408-7379 ou pelo Facebook.
Minéia Turismo: (53) 99169-9735 ou neste site.
Na contramão da praia
Destino tradicional durante o inverno, os Campos de Cima da Serra surgem como uma alternativa, também, para os dias quentes de verão. Em Cambará do Sul, por exemplo, o turista pode, além de conhecer os cânions, visitar cachoeiras da região.
— Quando os parques fecharam, ficamos três meses parados. Foi então que começamos a pensar e investir em novos roteiros — diz Larissa Ribeiro Farias, agente de viagens da Cambará Tours.
Esse foi o empurrãozinho necessário para apostar mais nos passeios rumo às quedas d'água. Hoje, é possível fazer um trajeto por seis cachoeiras a bordo de uma caminhonete 4x4 ou então conhecer duas delas conduzindo um quadriciclo. Há também percursos de bicicleta, caminhadas e piquenique.
Os valores dos passeios variam de acordo com o número de pessoas. Para a aventura de 4x4, indicada para todas as faixas etárias, pois todo o percurso é a bordo do veículo, paga-se entre R$ 140 e R$ 340 por pessoa. Informações: Cambará Tours (54) 98150-5274 ou pelo Facebook.
Terras Encantadas e Missões
Já pensou em ser recebido em um museu pelo Capitão Rodrigo? A depender do dia, pode ser que Bibiana ou Ana Terra abram as portas do local também. Essa cena, que se baseia nas páginas de O Tempo e o Vento, de Erico Verissimo, é uma das atrações de Cruz Alta, um dos 16 municípios que fazem parte da Rota das Terras Encantadas, no Norte e Noroeste. Mas além de conhecer a casa onde o escritor nasceu e cresceu, hoje transformada em museu, a visita pela região oferece uma imersão nas culturas alemã e italiana, por meio do turismo rural e gastronômico. Por lá, pode-se experimentar a tradicional cuca com linguiça ou a legítima polenta feita na panela de ferro.
Para desfrutar das áreas abertas, o Lago do Passo Real, um dos maiores artificiais do Estado, é uma alternativa para passeios de barco ou moto aquática. Em Victor Graeff, A Mais Bela Praça conta com mais de 200 esculturas em ciprestes.
Pela proximidade com os municípios das Missões, as duas regiões turísticas passaram a trabalhar em conjunto para ofertar mais atrações aos visitantes.
— Estamos trabalhando o conceito de ser a porta de entrada para as Missões. Muitos vão para lá para ver as reduções jesuíticas. De Porto Alegre, são quase 500 quilômetros. Todo mundo precisa parar, comer. Pode-se fazer a Rota das Terras Encantadas e seguir para a área missioneira — sugere Carolina Lopes, diretora de turismo da Rota das Terras Encantadas.
Informações: (54) 3324- 4315 ou neste site.
*A repórter viajou a convite do 32º Festuris