Luciano Ribeiro Pires*
Cinco séculos depois de Vasco da Gama, chego a Moçambique. Ele estava a caminho das especiarias da Índia e eu, na rota de descobrir os encantos perdidos pelo mundo.
O nome do país é inspirado em Musa al Bik, comerciante árabe que já havia andado por lá, trocando mercadorias e influenciando culturalmente a região, quando os portugueses chegaram. Situado na porção oriental da África, Moçambique foi descoberto por Portugal em 1498. Os europeus introduziram a religião católica e a língua portuguesa.
Por isso, viajar a Moçambique é sentir-se um pouquinho em casa. É incrível estar em um local tão desconhecido de nós e poder falar nosso idioma, inclusive com suas gírias. A TV brasileira é amplamente difundida, nossa moda também influencia as moçambicanas. Várias empresas, principalmente mineradoras e farmacêuticas, atuam no país. Os filmes produzidos nos EUA são exibidos com legendas e dublagens feitas por profissionais do Brasil. Até a moeda lembra o real.
A capital é Maputo, fundada em 1782, como Lourenço Marques – o atual nome foi adotado em 1976, após a independência do país. O processo de emancipação de Portugal foi um dos mais traumáticos do continente. O conflito envolveu apoiadores dos EUA e da União Soviética, no contexto da Guerra Fria, deixando milhões de refugiados e mutilados.
Cheguei a Moçambique vindo de eSwatini, um pequeno país vizinho que até pouco tempo chamava-se Suazilândia. Tudo fazia parte de uma fantástica viagem pela África Austral. No caminho, na van, tive a chance de conhecer moçambicanos, especialmente o simpático Delcínio, com quem conversei sobre o seu país e sobre o Brasil.
Em Maputo, comecei o passeio pela Praça dos Continuadores, um espaço verde onde há uma feira de artesanato. Em seguida, fui até a Estação Ferroviária, uma admirável construção erguida no início do século 20 e que ainda está em funcionamento. Abriga uma exposição de fotos e de locomotivas antigas e já foi classificada como uma das três mais belas estações de trem do mundo, segundo a revista Time.
Um pouco adiante, fica o Mercado Central, uma amostra da cultura gastronômica e do artesanato. Ali, pude degustar e comprar frutas, verduras, chás, temperos, frutos do mar. Na sequência, andei pela Avenida Samora Machel, onde estão vários pontos turísticos: a Casa de Ferro, um construção pré-fabricada na Bélgica, que serviu como casa do Governador-Geral e hoje é um museu; a Praça da Independência, onde há uma estátua de Samora Machel, líder da Guerra da Independência; a parte externa do Conselho Municipal de Maputo, o equivalente à prefeitura; e a Catedral Metropolitana de Nossa Senhora da Conceição. Logo depois, visitei o Jardim Botânico Tunduru, onde estava ocorrendo um casamento muito animado.
Já indo para outros lados da cidade, explorei uma das colinas para conhecer o Museu da História Natural. Em frente, há o Jardim dos Professores, que oferece uma bela vista da Baía de Maputo, com seus coqueiros e a brisa amigável do Oceano Índico. Seguindo pela Avenida Marginal, por uns seis quilômetros, cheguei ao Mercado de Peixe, onde há uma variedade enorme de frutos do mar – aliás, a refeição foi em um cenário esplêndido: uma praia de areias brancas e um lúcido verde-mar ao fundo.
Inhaca e xiguinha
Outro passeio imperdível é ir até as ilhas que ficam na entrada da Baía de Maputo. Partindo do terminal de balsas Catembe, foram quase três horas de travessia até a Ilha da Inhaca (que em nada sugere o nome pejorativo), e logo embarquei em um barquinho até a dos Portugueses (mais 15 minutos). Lá, tomei um dos melhores banhos de mar, em água tranquila e bem quentinha.
Na volta a Maputo, apreciei uma xiguinha, um prato tradicional, feito com mandioca, amendoim e cacana (uma folha) ou feijão-nhemba. Nas épocas de crise, a xiguinha salvou da fome muitas famílias moçambicanas, graças à simplicidade.
*Servidor público e viajante